Fenômeno por longo tempo menosprezado pela crítica e pela historiografia teatral brasileira, o teatro musical ligeiro que se desenvolveu no Rio de Janeiro na passagem do século XIX para o XX constitui um fértil campo para se estudar processos culturais que se desenvolviam na cidade, com reflexos no país, que ajudam a entender as complicadas relações raciais que ainda hoje assombram o imaginário e o cotidiano dessa sociedade. Através da análise de algumas peças de sucesso nas décadas de 1910 e 1920, procuro demonstrar como intelectuais simpáticos à cultura popular carioca estavam se apropriando de imagens e valores que se vinham forjando na Pequena africa do Rio de Janeiro e as transplantavam para o ambiente seguro do palco, despidas de seus conteúdos étnico-culturais originais.
A comédia musical Forrobodó, de Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt, estreada em 1912 no Rio de Janeiro, abriu caminho para a ampliação do interesse das classes médias cariocas pela cultura produzida no que se convencionou chamar de "Pequena África". A região em torno da praça Onze tinha uma alta concentração de lideranças espirituais e culturais dos afrobrasileiros e se transformara num viveiro de manifestações que teriam enorme influência na cidade e no país. Minha análise se concentra menos no texto e mais na performance em si, no sentido de apreender como os mitos de uma identidade mestiça começam a se construir. Todos os elementos da produção da peça se combinam para preencher a necessidade de grupos da classe média branca carioca de uma representação ambígua e ambivalente de raça e classe na cultura da cidade.
A construção de narrativas fundadoras de identidades nacionais faz uso de uma memória seletiva,
enfatizando aspectos que tendem a ser revistos após retorno às fontes primárias. Este é o caso do lundu
dança, eleito como um dos pilares fundamentais da história da música popular no Brasil. O Lundu (lundum,
ondu, lundu), ao lado da caxuxa (ou cachucha), foi uma das várias danças exóticas apresentadas nas
performances teatrais desde fins do século XVIII, em Portugal, e na primeira metade do século XIX nos
palcos da América do Sul (Rio de Janeiro, Buenos Aires, Lima). Viajantes estrangeiros que assistiram às
performances de lundu (Debret, Rugendas, von Martius) compararam-no com as danças que eles conheciam
na Europa (fandango espanhol, allemanda alemã). O estudo detalhado de informações extraídas dos
periódicos e da análise comparativa de partituras do período (1821–1850) permite nova escuta do lundu,
como parte da trilha sonora da época.
Estudo historiográfico sobre o Teatro da Natureza, projeto que se propôs a apresentar espetáculos teatrais ao ar livre no Rio de Janeiro de 1916. Estabelece os elementos constituintes do evento, tais como os textos montados e a concepção de cena, o elenco participante e as atuações, os cenários e os figurinos, a música, os motivos do seu fim, bem como o responsável por sua criação. São analisadas sua inserção no contexto sócio-cultural do Rio de Janeiro do início do século e sua relação com o teatro internacional do período. O estudo analisa ainda o papel que o projeto exerceu sobre a vida dos principais artistas envolvidos, sobre o público e sobre a própria atividade cênica, buscando compreender a sua participação na reestruturação que o teatro nacional experimentou a partir de então.
Esta tese investiga a relação do Estado com o teatro no Brasil no período de 1822 a 1889, por meio da subvenção às Artes Cênicas. Procura relacionar a documentação produzida pelo executivo e o legislativo dedicada ao teatro aos debates dos homens de letras sobre a questão teatral nos periódicos do Rio Janeiro. Investiga o patrocínio às Artes e à Literatura, na França do XVII e a assimilação desse modelo em Portugal durante o século XVIII e no Brasil a partir do XIX. Examina a ação da Revue des Deux Mondes na divulgação do teatro francês no Brasil. Analisa o alvará de 1771, primeira legislação produzida em Portugal para a normatização dos teatros públicos do reino e a sua permanência no Brasil após o processo de independência. Contribui com documentos novos para aprofundamento do estudo da história do teatro brasileiro
A proposta deste trabalho é efetuar um estudo de caso do auto Na festa de São Lourenço
(ca.1583), no sentido de identificar tópicas retórico-político-teológicas que alinhem esta
prática jesuítica à implantação de um projeto colonial português no Brasil quinhentista. Para
tal, pressupomos que a escrita jesuítica atua como um dispositivo colonizador que, ao controlar o
tempo e a memória, produz corpos integrados ao projeto português de fundação da cidade
cristã no Brasil. Para efetuar este estudo, utilizaremos outros textos tais como cartas, Flos
sanctorum, relatos, o poema épico, também atribuído a Anchieta, De rebus gestis Mendi de Saa
(1563), entendendo o auto, assim como as práticas textuais jesuíticas, como uma espécie de
‘fundação escriturária’ da cidade do Rio de Janeiro.
O texto apresenta um breve relato sobre a presença da atriz portuguesa
Ludovina Soares da Costa nos palcos dos teatros da corte no Brasil a partir de 1829. Faz
considerações também sobre a necessidade de maiores estudos sobre a contribuição dos
atores portugueses ao desenvolvimento do teatro brasileiro, sobretudo no século XIX.