A construção de narrativas fundadoras de identidades nacionais faz uso de uma memória seletiva,
enfatizando aspectos que tendem a ser revistos após retorno às fontes primárias. Este é o caso do lundu
dança, eleito como um dos pilares fundamentais da história da música popular no Brasil. O Lundu (lundum,
ondu, lundu), ao lado da caxuxa (ou cachucha), foi uma das várias danças exóticas apresentadas nas
performances teatrais desde fins do século XVIII, em Portugal, e na primeira metade do século XIX nos
palcos da América do Sul (Rio de Janeiro, Buenos Aires, Lima). Viajantes estrangeiros que assistiram às
performances de lundu (Debret, Rugendas, von Martius) compararam-no com as danças que eles conheciam
na Europa (fandango espanhol, allemanda alemã). O estudo detalhado de informações extraídas dos
periódicos e da análise comparativa de partituras do período (1821–1850) permite nova escuta do lundu,
como parte da trilha sonora da época.