Programa de Pós-Graduação "Stricto Sensu" em Letras
Esta pesquisa consiste no estudo comparativo das obras A farsa do advogado Pathelin, de autoria anônima, cuja data de criação é estimada em aproximadamente 1465, Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente e publicada em 1523, e Farsa da boa preguiça, do brasileiro Ariano Suassuna, cuja data de publicação é 1960. Temse como proposta analisar comparativamente as farsas que compõem o corpus, a fim de compreender a caracterização e as modulações desse gênero e suas relações com a cultura popular. Nessa perspectiva, o intuito é compreender como se dá a constituição do cômico em cada uma das peças, atentando para a manifestação da ambivalência e das relações que estabelecem com os seus respectivos contextos históricos e sociais, observar em que aspectos a constituição da farsa se associa à cultura popular e em que medida o corpus dialoga entre si. De acordo com Berthold (2006), a relação entre o teatro farsesco e os elementos da cultura popular se encontra expressa inclusive no surgimento daquele, visto que era um teatro praticado por amadores e baseado, a despeito de qualquer técnica cênica especial, na astúcia verbal. No estudo das peças, se considerou a tríade do cômico (relaxamento, resgate e reconhecimento), a qual conforme Reckford (1987) é responsável pela ativação da catarse cômica. Para refletir sobre a ambivalência do cômico, a cosmovisão carnavalesca e a relação da farsa com a cultura popular, os pressupostos teóricos de Bakhtin (1981, 1999) foram fundamentais. O estudo das obras de acordo com tais pressupostos nos conduz ao entendimento de que a catarse cômica consiste em um estágio alcançado por meio do emprego de recursos oriundos do cômico ambivalente, cujo potencial reside na revitalização do social