ct:Esta dissertação analisa a simbologia na obra Marta, a árvore e o relógio de Jorge Andrade, a fim de compreender a ligação simbólica utilizada entre as peças do ciclo, bem como perceber se o dramaturgo utilizou os símbolos da maneira convencional ou atribuiu novos sentidos aos mesmos. O ciclo de dez peças de Jorge Andrade tem, entre muitos objetivos, a nacionalização do drama brasileiro bem como dar voz aos marginalizados, compreendendo-os como parte integrante da história. O estudo interpretativo tem como bases teóricas principais para o estudo da dramaturgia brasileira Anatol Rosenfeld, Sábato Magaldi, Décio de Almeida Prado, João Roberto Faria, Mário Guidarini e para o estudo do simbólico Gaston Bachelard, Gilbert Durand, Mircea Eliade, Carl G. Jung, Pierre Bourdieu entre outros. O dramaturgo escolhe, dentre os seus símbolos principais, um símbolo de liberdade que é Marta para contar o ciclo e para lutar pelos sem rosto. A árvore, que não só representa a genealogia, mas também a ligação com o transcendente, a proteção e a vida. E orelógio sem ponteiros que remete ao tempo parado no ar, à luta do homemcontra o tempo e contra a história, que é sempre contada pela ótica dominante e excludente. A forma como Andrade costura a história do Brasil, os diversos símbolos presentes na sua obra e a árvore genealógica das suas personagens revelam um dos maiores gênios da dramaturgia brasileira.
Crítico teatral aos vinte anos de idade, Machado de Assis registrou as transformações pelas quais o teatro brasileiro vinha passando em meados do século XIX. Com o florescimento do teatro realista francês, o modelo teatral romântico, carregado nos exageros cênicos, tanto no que diz respeito à ornamentação do palco quanto aos movimentos físicos dos atores, passa a ser criticado e combatido. O que se desejava era a renovação cênica e de repertório a partir de um maior comedimento dos artistas e da substituição de enredos cujos núcleos temáticos eram a nação por temáticas calcadas nos problemas familiares. Documentando esse momento de transição do teatro brasileiro e estimulado pelas novas comédias realistas, Machado de Assis produz as suas primeiras peças teatrais cômicas. Partindo-se da perspectiva de que o riso representa uma função indispensável ao pensamento, na medida em que nos faz ver o mundo com outros olhos, tornou-nos pertinente a análise das funções e dos procedimentos cômicos nas peças de Machado de Assis. Com esse propósito, selecionamos duas peças: Hoje avental, amanhã luva (1860) e O caminho da porta (1862), obras cujos núcleos temáticos giram em torno da figura feminina. Como subsídios para embasar nossas análises, apoiamo-nos nas teorias sobre o cômico de Bergson (2007), Freud (1977) e Jolles (1976), a partir das quais percebemos que a comicidade empreendida por Machado de Assis tanto pode assumir um ato de significação social que cumpre a tarefa de corrigir comportamentos desviados, aproximando-se, dessa forma, da teoria de Bergson como também assume a perspectiva freudiana de que o cômico suscita prazer na medida em que proporciona o extravasamento de conteúdos reprimidos, desvelando, por tanto, o que é ocultado.
Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio
de Janeiro
A família tradicional é composta por pai, mãe e filhos que se encontram em um
laço de afetividade constituído a partir do encontro nupcial entre os cônjuges. Sobre essa
instituição, recaem os preceitos éticos que devem ser fundamentados na educação do
indivíduo que, no seio do lar, é submetido desde o ventre materno à legislação moral,
formadora de um homem íntegro em sociedade e respeitado em sua digna moralidade. A
associação desses princípios à concepção de família se constitui através dos dogmas
religiosos, que consideram família um sistema sagrado. Diante dessa concepção tradicional e
sacra, Nelson Rodrigues encena, em suas peças, as ruínas deflagradas nas relações sem afeto
desses “entes queridos”. Acerca disso, suas produções são representações teatrais em que são
desveladas as máscaras morais através de personagens em crise com seus conflitos interno e
externo. São figuras cênicas multifacetadas em suas representatividades ambivalentes de um
teatro, cuja fatalidade do trágico e a irreverência do cômico atribuem às peças de Nelson
Rodrigues um caráter tragicômico. Esse caráter é manifestado no duplo contraditório de uma
trama cambiante entre o drama da falência de famílias rasuradas em suas intimidades
conturbadas pela miséria de personalidades cênicas desnorteadas entre a intensidade do amor
e o mal-estar da irritação. A tragicomédia no teatro de Nelson Rodrigues é revelada na
exacerbação das marcas trágicas, principalmente, por meio de seu teatro desagradável, no
qual o dramaturgo põe em cena o caos e o desespero de indivíduos que habitam o mesmo
ambiente, mas não se suportam em convivência. Na desmesura de suas ações cênicas,
alcançam as personagens de Nelson Rodrigues o nível do patético, ridículo e hilariante em
tramas que tornam jocoso o homem de aparência sublime em estado de decadência, drama e
piada no esvaecimento de famílias em ruínas. Assim sendo, tomaremos para análise dessa
questão, as peças do teatro desagradável de Nelson Rodrigues, com especial destaque a
Álbum de família (1945), Anjo negro (1946) e Doroteia (1949) e apoiando-nos nos estudos
de Flora Sussekind, Ronaldo Lima Lins, Victor Hugo Adler Pereira, Ângela Leite Lopes,
Sábato Magaldi e Ruy Castro.
Programa de Pós Graduação em Literatura Brasileira
Os estudos sobre Leonor de Mendonça não são muito numerosos e geralmente se articulam a capítulos ou prefácios que versam sobre a produção dramática de Gonçalves Dias como um todo ou acerca do teatro romântico no Brasil. A presente tese se propõe a apresentar um estudo mais extenso e aprofundado da obra prima gonçalvina. A escolha dessa peça também se deveu ao célebre Prólogo que a antecede, pois ele discute aspectos importantes da estética romântica dialogando com as produções europeias e sobretudo com o Prefácio de Cromwell de Victor Hugo. O escopo deste trabalho é analisar o drama Leonor de Mendonça privilegiando o contexto de produção da obra do ponto de vista estético. Nesse sentido, o exame da peça abrangerá um estudo sobre os gêneros dramáticos em voga no período e a relação da obra gonçalvina com essas estéticas teatrais. A ideia é perceber como os elementos do drama burguês, do melodrama, do drama histórico e romântico bem como aspectos da literatura gótica estão imbricados no texto em questão. Além disso, a permanência de elementos clássicos e neoclássicos também será discutida ao longo dos capítulos do presente estudo. O intento desse exame é assinalar como a comunicação com esses gêneros contribui para o desenvolvimento do drama. Nesse exercício transparece de forma mais tangível o diálogo de Gonçalves Dias com Victor Hugo e também a interação com as tragédias de Schiller. Considerada um drama histórico, com efeito, a obra em questão se estrutura inter-relacionando características de diferentes gêneros. Mais do que o resultado de uma relação intergêneros, em Leonor de Mendonça as diversas experiências estéticas do autor foram subsumidas na composição conformando-se em um drama efetivamente romântico de enredo trágico e conteúdo crítico que ainda permanece atual. Este trabalho também compara a peça gonçalvina com dramas e tragédias brasileiros coetâneos a fim de demonstrar a singularidade da história da duquesa de Bragança nesse contexto em que a estética romântica no teatro ainda não fora totalmente compreendida ou admitida. De uma perspectiva mais ampla, pretende-se com a presente tese contribuir para o estudo do teatro de Gonçalves Dias e a pesquisa sobre o romantismo no Brasil.
O estudo teórico acerca da dramaturgia brasileira das últimas décadas atribuise na medida em que contribui para o resgate da memória e da identidade nacional. Contudo, quando analisamos as produções do século XX, observamos o expressivo número de homens escrevendo para o teatro. Desde os tempos mais recuados, a dramaturgia produzida por mulheres é reduzida pela condição instituída socialmente de marginalização da figura feminina. Em geral, é comparada à escrita dos homens, sendo, pois, analisada a partir dos cânones de dominação masculina. Ao rastrear a produção dramatúrgica do período em questão, identificamos o trabalho de algumas importantes escritoras, destacando-se Consuelo de Castro. Seus textos expressam a preocupação relativa à condição social feminina no Brasil, em diferentes períodos da história do país. Assim, a dramaturga revela as transformações vividas pelas mulheres ao longo dos anos. Esta dissertação tem como foco o estudo da produção de Consuelo de Castro, em pelo menos três momentos distintos de sua carreira, focalizando a imagem da mulher representada em À flor da pele (1969), Louco Circo do Desejo (1983) e Only You (2001).