Este artigo analisa a peça Rasto Atrás do dramaturgo Jorge Andrade e reflete sobre a busca da memória como material da sua escrita. As relações entre forma e estrutura cênica são investigadas, discutindo-se a estética expressionista, a multiplicidade de espaços, a simultaneidade de tempos, a metalinguagem e, em alguns momentos, a anulação do tempo. Texto auto-reflexivo e profundamente emblemático da obra de Jorge Andrade se constitui na investida mais funda do autor em busca de si mesmo, do seu povo, da sua sociedade.
Memória e utopia, transmutadas em linguagem teatral,
renovam a apreensão da relação entre dramaturgia e experiência
social. Em A moratória (1955) e Rastro atrás (1966),
a lembrança do descenso da família de Jorge Andrade impregna
a fala dos personagens e dos objetos que os cercam.
Neles se inscreve a história da família e da oligarquia
agrária a que pertenceu o dramaturgo. A peça de Gianfrancesco
Guarnieri, Eles não usam black-tie (1958), ativou os
sonhos de uma geração sobre o potencial da cultura na
reordenação da sociedade. O operariado estreou nos palcos
da metrópole pelo drama de uma família tensionada
pela greve, pelo conflito geracional e pela luta de classes.
Eis a prova do relevo da cena teatral numa conjuntura excepcional
de transformação da cultura brasileira, sinalizada
pelo cinema novo e pelo intrincado entrelaçamento do
teatro, com o rádio e com o início da televisão no país
Este artigo estuda o Grupo Teatro da Cidade (GTC), privilegiando algumas formas de comunicação e cultura de uma região. Trata-se de um grupo de teatro profissional que se estabeleceu em Santo André, no ABC paulista, entre 1968 e 1978, tendo atuado num período de intensa repressão institucional. Seus membros, ao narrarem suas lembranças, rememoraram experiências diversas dos mecanismos de controle social, entrelaçando-as à ação da censura e às manifestações artístico-culturais na cidade. Pretende-se, assim, identificar, sob o ponto de vista das pessoas envolvidas (atores e atrizes do GTC), como se deu a ação das forças repressivas e, em particular, da censura, buscando recuperar as memórias do medo.
A estreita relação do teatro com a memória é evidente no trabalho dos atores. Sem ela os intérpretes não
poderiam representar e se inventar como “outros”. Ela está presente também quando o texto dramático apoiase
na transmutação da memória dos autores, como é o caso dos dramaturgos que selecionamos para a análise:
Jorge Andrade (1922-1980) e Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Para dar pulso cênico à reminiscência de
Jorge Andrade, nas peças A moratória (1955) e Rastro atrás (1966); ou ao invento como projeção imaginada da
utopia partilhada pela geração de Guarnieri, em Eles não usam black-tie (1958), ambos os autores utilizaram uma
das técnicas do trabalho da memória: fixaram lugares e objetos para desvelá-la.
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Nas peças de Jorge Andrade, a
lembrança objetivada do descenso social de sua família impregna tanto a fala dos personagens quanto os objetos
que os cercam. Antes de tudo, as casas que habitam: a do pretérito, da opulência e do mando; a do presente,
modesta e sem brilho. Mas ela também se condensa na máquina de costura, que serviu de recreio à menina rica
do passado e de esteio da família no descenso do presente; no relógio pendurado na sala de jantar; nos santos
nas paredes. Atando significados simbólicos e relações sociais, a casa e os objetos são mais que peças de cenário.
Neles se inscreve a história social da família, que é também a da classe a que pertenceu o dramaturgo: a oligarquia
agrária ligada ao café
Esta dissertação tem como principal objetivo estudar a produção da dramaturgia contemporânea em Belo Horizonte. Pretende-se observar como os conceitos de memória, estética e política estão presentes nessas produções e os modos como eles operam para produzir um diálogo com o público. Por se tratar de uma grande cidade considera-se que a produção seja bastante numerosa e, nesse sentido, se fez necessário um pequeno recorte de grupos e espetáculos para que se possa analisar e realizar uma reflexão crítica de tais dramaturgias. Os textos selecionados foram: 'A pequenina América e sua avó $ifrada de escrúpulos', do Mayombe Grupo de Teatro, 'Bê-a-bá Brasil: Memória, Sonho e Fantasia', do Oficcina Multimédia e 'Proibido retornar', do Grupo Teatro Invertido.
O trabalho visa refletir sobre a atualidade das propostas do método de Bertolt Brecht
de encenação teatral através de sua reelaboração a partir da cultura brasileira, analisando os
vídeos, através de suas conexões com os espetáculos teatrais, de dois grupos brasileiros a saber:
a Companhia do Latão (São Paulo) e o Ói Nóis Aqui Traveiz (Porto Alegre). A metodologia
analítica funde noções estético-filosóficas cunhadas por Brecht e Walter Benjamin às
observações recolhidas durante uma pesquisa de campo junto aos dois grupos teatrais,
objetivando uma compreensão mais ampla da conexão entre os espetáculos teatrais e os
respectivos registros audiovisuais em DVD. Analisa o uso do efeito-V em suas produções em
vídeo. E ainda algumas experiências formais dessa interseção vídeo-teatro a serviço da
memória das produções cênicas e da própria pesquisa experimental nesse campo.
Se um corpo é o centro da vida humana, ao tomar o corpo do cidadão como coisa, o
Estado nega-lhe a possibilidade da própria vida, mesmo antes de matá-lo. E se ao matar,
nega que o fez, constitui-se como criminoso duplamente: pelo assassinato e pela
mentira. Fábrica de Chocolate, texto teatral de Mario Prata, escrito em 1979, trata
exatamente de um desses momentos, em que um operário é reduzido à condição de
coisa nas mãos de seus torturadores/assassinos, crime que é transformado em suicídio
pelo Estado. O objetivo desta dissertação é analisar esse texto teatral, usando como
chave de leitura os conceitos de mentira – e sua relação com a memória – e de alegoria
para demonstrar o processo de ficcionalização da violência engendrada pela ação de
torturar, de assassinar e de mentir e da consequência política disso. Assim, foi
importante para a concretização dessa tarefa um diálogo com muitas obras dentre elas a
―História da mentira: prolegômenos‖, de Jacques Derrida, Verdade e política, de
Hannah Arendt, Memória, esquecimento, silêncio, de Michael Pollak, Origem do drama
trágico alemão, de Walter Benjamin, e Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I,
de Giorgio Agamben.