A estreita relação do teatro com a memória é evidente no trabalho dos atores. Sem ela os intérpretes não
poderiam representar e se inventar como “outros”. Ela está presente também quando o texto dramático apoiase
na transmutação da memória dos autores, como é o caso dos dramaturgos que selecionamos para a análise:
Jorge Andrade (1922-1980) e Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Para dar pulso cênico à reminiscência de
Jorge Andrade, nas peças A moratória (1955) e Rastro atrás (1966); ou ao invento como projeção imaginada da
utopia partilhada pela geração de Guarnieri, em Eles não usam black-tie (1958), ambos os autores utilizaram uma
das técnicas do trabalho da memória: fixaram lugares e objetos para desvelá-la.
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Nas peças de Jorge Andrade, a
lembrança objetivada do descenso social de sua família impregna tanto a fala dos personagens quanto os objetos
que os cercam. Antes de tudo, as casas que habitam: a do pretérito, da opulência e do mando; a do presente,
modesta e sem brilho. Mas ela também se condensa na máquina de costura, que serviu de recreio à menina rica
do passado e de esteio da família no descenso do presente; no relógio pendurado na sala de jantar; nos santos
nas paredes. Atando significados simbólicos e relações sociais, a casa e os objetos são mais que peças de cenário.
Neles se inscreve a história social da família, que é também a da classe a que pertenceu o dramaturgo: a oligarquia
agrária ligada ao café
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