El malefício de la mariposa, de Federico García Lorca, reflexão e análise, tem como objetivo fazer uma reflexão sobre os aspectos dramático, social, poético e literário desta obra da juventude do poeta e dramaturgo espanhol. Para isto, percorremos uma trajetória que nos levou a pesquisa sobre a renovação do teatro espanhol, como uma proposta de inovação. Estudar esta obra no seu conceito social e como proposta de realização de um teatro total foi um mergulho no contexto histórico da época. Escrita em prosa e verso, o lirismo está presente na construção de um tema que trata da liberdade de escolha e valores intrínsecos à alma humana. A crítica social é clara quanto ao comportamento dos personagens representados por meio de insetos: baratas, escorpiões, vermes e a própria mariposa. Uma obra modernista que aborda conflitos existenciais entre ser e estar no mundo e o confronto com o próprio ser. A chegada de uma mariposa branca que cai ali no prado de baratas, com a asa machucada, incomoda pela sua luz, ofuscando a rotina dos insetos que ali vivem, acomodados em seu cotidiano em branco e preto. Em seu texto dramático, Lorca deu vida aos pequenos insetos, dotando-os de espírito e voz, aproximando esta obra da fábula infantil. Pesquisar sobre este gênero de literatura significou um encontro com vários autores que também elegeram os animais como representantes dos homens. Dentro de uma reflexão pessoal, pretendemos mostrar que esta polêmica peça de teatro, foi um marco decisivo de uma mudança expressiva nos conceitos teatrais da época.
Esta pesquisa procurou discutir por meio do grupo mineiro Espanca! e dos seus espetáculos Por Elise, Amores Surdos e Congresso Internacional do Medo a abordagem contemporânea que os elementos da palavra, do espaço e do tempo se arranjam de forma a trazer a tensão de ruptura e apropriação dos conceitos do teatro moderno. Com a pesquisa focada no trabalho do Espanca! pode-se analisar a utilização de tais elementos e de que maneira eles podem revelar caminhos para a construção de uma obra poética ligada às transformações do seu tempo e elemento de identidade para o grupo teatral. A pesquisa revela na criação do grupo os vestígios de um pensamento que aborda a contemporaneidade como força motriz de apropriação para os arranjos poéticos e relaciona-se com o processo de criação como estímulo a formas de se explorar a linguagem teatral e o discurso implícito na narrativa. A palavra, o espaço e o tempo neste contexto são reconfigurados como forma de proporcionar uma comunicação que revele o discurso poético do grupo e consiga amparar os desejos de fala e reflexão do mundo para com a sociedade. As obras revelam uma criação edificada com os reflexos do campo teatral contemporâneo, porém profundamente marcadas pela apropriação de elementos e propostas do teatro moderno, singularizando uma obra que ao mesmo tempo que evoca as transgressões de fragmentação e alinearidade da narrativa procuram alinhavá-las ao conceito de presença e encontro marcantes do teatro clássico.
Este memorial propõe a cartografia do processo de criação do espetáculo “Saga no Sertão da Farinha Podre”, do Coletivo Teatro da Margem, dirigido por Narciso Telles. Para mapear a gênese da criação de um espetáculo, buscamos acompanhar o processo como Assistente de Direção, registrando em fotos, vídeos e escrita, as impressões mais significativas de estar imerso em um processo artístico. Em um segundo momento, optamos por uma forma textual que apontasse questões conceituais inerentes ao referido processo, mas que também fosse igualmente subjetiva tanto quanto o próprio exercício artístico. Assim, propomos a subjetivação de registros de processo criativo, considerando não só as afetações durante o processo de registro como também no ato de reconstituí-lo.
O presente projeto de pesquisa em artes cênicas tem como objetivos principais a construção de um processo criativo sobre a peça Sonho de uma noite de verão, de William Shakespeare, e a análise dos registros e documentações à luz das teorias e conceitos que situam o Teatro em sua contemporaneidade. Estimula a criação cênica partindo da experimentação corporal dos personagens e conflitos, apresentando diferentes metodologias e linguagens teatrais, que se organizaram como coreografia cênica, cenas realistas, a commedia dell’arte, o butô e a performance-art. Conceitos como movimento, ação, narrativa, estado físico, ficção e realidade são abordados de forma prática e experimetados enquanto signo de cena. O método de análise se pauta no relato das experiências, suportado pelas teorias das linguagens acima citadas, nos registros criados pelos atores e na gravação do exercício cênico em DVD. A conclusão do trabalho se insere em questões de formação acadêmica para o ator, tais como presença cênica, instrumentalização corporal e vocal, subjetividade e interpretação, bem como a necessidade ainda premente do diálogo contínuo entre expressão pessoal e comunicação coletiva. O processo convergiu metodologias e linguagens aparentemente opostas, visando uma polifonia de percursos e sentidos. Tentando aproximar-se da linguagem multifacetada do sonho, repleta de simbolismos e caminhos implícitos de significação e conteúdo.
A presente pesquisa se insere na área das Artes Cênicas – Práticas e Processos em Artes - e pretende problematizar/experimentar a relação corpovoz/ subjetividades/ criação. Mais especificamente, abordo a questão do trabalho do atuante no que se refere à liberação de fluxo do corpo-vida no processo de criação. Para isso, adotei procedimentos que compreendem vivências e experimentos técnico-poéticos, pesquisa e leitura bibliográfica, reflexões, registros e sistematização de conceitos e princípios a respeito do tema abordado. O percurso desenvolvido ao longo desta pesquisa aponta para o trabalho do ator sobre si mesmo, compreendido por um processo de autopesquisa, tendo como ponto de partida o (meu) próprio corpovoz e subjetividade. Considerando corpo e subjetividade não como uma identidade fixa, dada à priori, constituinte de um sujeito, mas como forças em fluxo dinâmico e heterogêneo, que estão sempre em trânsito, sempre em relação, sendo gerados e se refazendo a todo instante, de acordo com sua capacidade de afetar e ser afetado, tendo como guia princípios de alteridade. Neste sentido, corpo, voz, emoção, pensamento, intuição, memória, presença e espiritualidade foram trabalhados na busca de uma confluência e permeabilidade entre os elementos, a fim de potencializar aspectos afirmativos da vida e da criação. As práticas realizadas no contexto deste trabalho criaram espaços para uma reflexão somática, possibilitando a fricção e a fisicalização de conceitos e energias, bem como pretenderam estabelecer um campo onde não se distingue poesia e filosofia, corpo e pensamento, modos de ser no mundo e artesanatos, ética e estética. Os procedimentos aplicados contemplam experimentos com matrizes corpóreo-vocais afro-ameríndias, com cantos rituais, toques de tambor xamânico e exercícios do Alfabeto do Corpo. Neste percurso, pude constatar a potência do trabalho com o ritmo, o canto e o movimento no processo de liberação de bloqueios, de desestabilização de dicotomias e condicionamentos. Esgarçando o sujeito, promovendo a flexibilização da subjetividade, o alargamento da percepção, dissolvendo os substratos, ativando os atravessamentos, potencializando a presença - forjando novos modos de ser.
Este trabalho analisa a importância das leituras na construção do modelo herético e subversivo da identidade feminina representada por Branca Dias na peça teatral O Santo Inquérito, de Dias Gomes. Na obra, a protagonista é julgada pelo Santo Ofício por um crime nada convencional: o conhecimento adquirido por meio de leituras proibidas. Como os livros lidos por Branca Dias faziam parte do Index Auctorum et Librorum, criado em 1559 pelo Papa Paulo IV, em Coimbra, a punição recebida pela filha de Simão Dias só se confirmaria por meio de sua confissão. Ao ser questionada, a protagonista demonstra um conhecimento próprio de culturas letradas, como a dos judeus. Além disso, há provas concretas, para os inquisidores, de que ela judaizava. Por isso, ela é condenada a morrer na fogueira. Outro aspecto de extrema riqueza, e que torna a peça de Dias Gomes contemporânea, é a discussão acerca do gênero, da interferência da Igreja nos costumes dos grupos étnicos durante o processo de colonização nos trópicos e da intervenção dos militares durante o golpe civil militar que instaurou a Ditadura no Brasil, apresentada com traços alegóricos. Branca Dias é, então, a representação das verdades humanas, ela é o bode expiatório que cumpre a função de revelar a ausência de liberdade de expressão no reinado do Tribunal do Santo Ofício e no período ditatorial.
O trabalho proposto nesta Dissertação objetiva abordar um estudo do processo formativo e de criação corporal direcionado na disciplina denominada “Corpo Criador” aplicada no ano de 2010 aos alunos do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia. O trabalho está dividido em três partes: a primeira que apresenta um recorte e uma conexão com os trabalhos de Fabiana Marroni e Sônia Machado Azevedo com apontamentos dos “Jogos para dançar” e das “Necessidades específicas de um trabalho com atores”, respectivamente; a segunda com a descrição do processo formativo e de criação da disciplina ministrada no ano de 2010 com alunos do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia; a terceira em que é feita a análise do processo e o que foi apreendido durante esta trajetória. Por fim são apresentadas as considerações finais levando-se em consideração o processo dessa pesquisa e as questões que ficam para trabalhos futuros.
A premissa do trabalho é de que a partir de um processo de ensino-aprendizagem caracterizado por aulas realizadas entre o espaço de risco (cidade) e o espaço seguro (sala de aula), e da socialização de mecanismos técnico-corporais provenientes de universos culturais marcados pela maior fricção entre corpo e cidade, possa emergir um artista cênico com uma sensibilidade mais aguçada no que se refere à interação com a cidade contemporânea. A formatação da aula primou pela inserção de princípiostécnico- corporais catalogados através de um processo de Auto-Etnografia da trajetória formativa do pesquisador, com ênfase em sua experiência nas manifestações Dança de Rua (B.boying), Le Parkour e Release Tecnique (Dança Contemporânea) e também pela aplicação de cursos rápidos nos quais os alunos foram estimulados a experienciar espaços das cidades caracterizados pela diversidade de texturas e volumes.
Nascido em 1898 no interior de uma Espanha rural excessivamente católica e aristocrática, Federico García Lorca tornou-se um dos expoentes máximos da literatura espanhola e mundial. Sua obra teatral, impossível de ser separada de sua poesia, tornou-se bastante conhecida por sua envergadura trágica e por sua universal e recorrente temática de amor, morte e liberdade. Menos difundidos, mas não menos importantes, encontram-se o espírito lúdico e as formas de expressão não realistas que marcam toda sua dramaturgia. Estudando a biografia de Lorca em conjunto com seu teatro sobressai a figura de um artista preocupado com a renovação da cena e sua recepção, cuja meta era a realização de um teatro eminentemente popular: na linguagem e no acesso. Além do reconhecimento de um público culto esperado por um artista de sua época e contexto, Lorca queria que seu teatro chegasse ao povo, que atingisse as pessoas mais simples, com as quais convivera desde criança. Uma forma de expressão capaz de propiciar a concretização desses anseios foi o teatro de bonecos popular (técnica de luvas) conhecido como teatro de títeres ou guiñol (na Espanha) - cujas representações presenciadas nas praças e feiras andaluzes exerceram profunda influência sobre o imaginário de Lorca desde sua mais tenra infância. Este teatro somado às ricas experiências protagonizadas pelo autor enquanto um artista da vanguarda européia influenciou sua concepção sobre a arte teatral. Torna-se possível aproximar significativa parte das peças de Lorca ao atual teatro de animação que envolve o teatro de objetos, de sombra, a utilização de máscaras corporais/faciais, para citar apenas algumas dentre as inúmeras possibilidades que recheiam o gênero além dos títeres e outras técnicas de construção e manipulação de bonecos. A morte prematura do poeta dramaturgo, a proibição de sua obra na Espanha durante a ditadura do General Franco e a escassez da crítica sobre o teatro de títeres lorquiano são algumas das dificuldades que permeiam a identificação das obras que podem ser enquadradas nesta seara teatral. Não obstante, as estruturas presentes no cerne dos textos permitem essa associação a um conjunto de peças, do qual selecionamos para análise: O idílio da Carvoeirinha - representando a dramaturgia do teatro inédito da juventude do autor -, Tragicomedia de don Cristóbal y la señá Rosita farsa guiñolesca en seis cuadros y una advertencia e Retablillo de don Cristóbal - farsa guiñolesca - realizadas a partir da influência direta do teatro de títeres popular. As três obras, distintas entre si, são igualmente analisadas à luz de metodologias específicas, de acordo com suas peculiaridades, e foram escolhidas por representar diferentes períodos, ilustrando a trajetória da dramaturgia lorquiana e de seu teatro para títeres. O trabalho revela, portanto, as principais características da dramaturgia para títeres de García Lorca, numa abordagem que leva em consideração tanto as obras em foco e sua relação com outras peças do teatro lorquiano quanto os aspectos biográficos do dramaturgo enquanto encenador e pensador da arte teatral.
Esta dissertação de mestrado trabalha a questão dos “tipos” clássicos do palhaço pelos conhecimentos da área circense, e da atuação (prática e teórica) do nariz vermelho no teatro; através da análise de teorias e dos exemplos práticos analisados (a “Força hercúlea” de “A.la.pi.pe.tuá!!” e “Abelha, abelhinha” de “Reprisantes”). Apoiando-se, principalmente, nos estudos de Mario Bolognesi e Luís Otávio Burnier; incorporando, desta maneira, palavras/conceitos que deram significado ao subtítulo deste trabalho: “transformação” e “estado”. Discute também, a representatividade do palhaço como símbolo do homem em cena; fundamentado em análises sobre as teorias de Raymond Williams, Jean Chevalier, Mikhail Bakhtin, Junito de Souza Brandão, John Rudlin entre outros. Através dos recortes aplicados, é estudado o jogo de relações do palhaço, e a formulação da “duplicidade”, branco e augusto. Para isso, foram fundamentais os entendimentos sobre as teorias e práticas de Ricardo Puccetti, Lily Curcio, Abel Saavedra, Paulo Merísio, Ermínia Silva, Joice Brondani, Alice Viveiros de Castro, Renato Ferracine, Juliana Jardim, Roberto Ruiz, Narciso Telles, Rose Battistella, Michael Chekhov, Humberto Marques Ribeiro e Ésio Magalhães; a prática clownesca e teatral formam a base fundamental deste trabalho. Por isso, os entendimentos sobre arte, cultura e sociedade nortearam a pesquisa. Buscando interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento e alimentado por conceitos como “transformação”, “estado de interpretação”, “Residual”, “Alma e personalidade”, “verdade” e “lógica própria” aplicados ao trabalho de clown, esta dissertação promove discussões que revelam práticas e teorias teatrais e circenses.
Essa pesquisa se inicia na busca da compreensão de uma dramaturgia para o teatro de animação. A partir de um reconhecimento de especificidades desse teatro, percebe-se que a dramaturgia como texto não abarcaria todas as necessidades que essa forma de espetáculo se utiliza como técnicas discursivas. Compreendendo, portanto, relações como a do ator com o boneco, a constituição física do boneco, a técnica empregada na manipulação, entre outros. A concepção contemporânea de dramaturgia acaba sendo a que melhor vai abarcar o movimento de teatralidade em que se insere o teatro de animação atual. Para uma análise mais detalhada de como essa dramaturgia pode ser construída, foram pesquisados os espetáculos: Pinocchio, do grupo Giramundo; e O cavaleiro da triste figura, do grupo Catibrum. As propostas poéticas desses dois grupos belo-horizontinos se refletem e se afastam por uma série de questões, mas servem como exemplos de maneiras de uso da dramaturgia do teatro de bonecos atual no Brasil.
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise da obra de Federico García Lorca, La Casa de Bernarda Alba escrita em um momento crítico de uma Espanha em ebulição. A obra denuncia a situação de confinamento e repressão em que vivem as mulheres da casa, encarceradas, e submissas ao jugo materno. A submissão provoca o desvario e o enlouquecimento das jovens e da personagem Maria Josefa. Se na personagem Maria Josefa analisa-se a loucura senil, já o que se configura como a loucura de Adela atribui-se a sua desmedida paixão pelo objeto proibido: o noivo de sua irmã. Na análise abordaremos ainda as questões ligadas à história da loucura estudada por Michael Foucault e aspectos da loucura vistos sob o olhar psicanalítico de Freud. A reclusão e a submissão das mulheres espanholas do período em que Lorca escreve é, também, denunciada em Bodas de Sangre e Yerma, obras que servirão como reforço ao presente estudo.
Essa dissertação se vale da possibilidade conceitual da leitura como uma performance em grau-mínimo, fazendo da escrita um exercício metalinguístico ou metaperformático que busca ativar o corpo do leitor por meio de investigações sobre a performance, o corpo e o contexto de sua realização. Permeando os paradigmas da arte contemporânea e o contexto político/social/cultural da sociedade capitalista industrial midiatizada, encontramos indícios das falências e potências do desejo que, investigado em seu caráter produtivo, atravessa e se deixa atravessar pelas subjetividades e seus agenciamentos coletivos. Relatos de uma performance são recriados e reavivados para refletir os conceitos abordados a partir das relações da performance com o espaço, o tempo, a forma, a recepção e os códigos que a permeiam e constituem. Compomos um território que se desdobra em múltiplos vetores: do conceito à realização, da fundamentação à reflexão teórica incorporada e/ou corporificada, da paisagem conceitual às especificidades da experiência.
O livro O Caso dos Irmãos Naves (1960), escrito por João Alamy Filho a partir dos autos processuais do clássico erro judiciário de Araguari (1937-1953), ganhou adaptação para o cinema em 1967 com o filme de mesmo nome dirigido por Luiz Sérgio Person. Ambos os trabalhos se revelaram uma celebração da memória da família Naves e abriram um caminho rico de possibilidades a despertar no público (e em outros artistas) a consciência de responsabilidade individual e coletiva. Inspirados no filme e no livro, outros trabalhos artísticos na área da música, televisão e teatro foram criados, alguns dos quais de mesmo nome. O presente trabalho procurou fazer um estudo sobre os processamentos artísticos a partir da história dos torturados, considerando-os aparatos de memória e demonstrando o valor das artes para a perpetuidade e ressignificação da memória social.
A obra de Wagner Salazar ocupa lugar de destaque na memória artístico-cultural de Uberlândia (MG), com uma produção que possui relevância tanto pelo número de peças teatrais concebidas quanto pela projeção alcançada por encenações destas. O método de investigação da pesquisa passa pelo acesso aos caminhos trilhados pelo diretor, ator e dramaturgo no cenário nacional e também pelo levantamento e análise das influências e dos processos que levaram o artista a conceber uma obra que, passados mais de vinte anos, ainda se mantém como vanguarda, denotando que quando concebida, provavelmente estava à frente de sua época. A hipótese que originou este trabalho é que Wagner Salazar foi dramaturgo e encenador pós-moderno. Para uma análise mais objetiva a este respeito foi escolhida a peça de sua autoria que mais alcançou projeção: Medéia – O Dramatículo, um espetáculo teatral que, mesmo dialogando com a tragédia de Eurípedes e com textos de outros autores, se apresenta como material original do autor que, encenado sob sua direção, estreou em Uberlândia e foi apresentado em outras cidades do Brasil, bem como na Venezuela, Colômbia e Espanha.
Essa dissertação apresenta um estudo do texto O círculo de giz caucasiano, de Bertolt Brecht (1898–1956). O farol de investigação é iluminado pelo reconhecimento dos elementos e das características do gênero melodramático presentes na tessitura do texto do dramaturgo alemão. Para respaldar minha investigação, recorro a alguns apontamentos já existentes sobre o gênero melodramático, em especial, os estudos de Jean-Marie Thomasseau (2005), Ivete Huppes (2000), somados aos do teatro épico brechtiano. A Idea de Brecht sobre fábula, cópia, relação texto/cena, aponta para outras possibilidades de sentido diferentes da expectativa gerada pela estética melodramática. Esse diálogo entre discursos é respaldado pelo viés do dialogismo e discurso paródico de Mikhail Bakhtin (1999; 1992). Consequentemente, o resultado do trabalho se caracteriza em um constante ir e vir entre “espaços”, “tempos” e “ideias”, no qual o exercício de releituras de formas e discursos, socialmente diversificadas, revela uma das teses do pensamento brechtiano: um mundo em transformação no qual o sujeito não anula suas emoções, mas eleva-as ao horizonte de lucidez. O jogo de aproximação e distanciamento visa, na estética do exagero, a propalação de qualidades artísticas a serem regadas pela objetividade do teatro épico, processo que culmina, na fábula, uma discussão e crítica ao senso de propriedade, não somente em voga nos melodramas do período clássico, mas também na dramaturgia de Brecht.
Esta dissertação analisa a obra Maneries, da Cia Luis Garay, de Buenos Aires – Argentina, a partir do conceito de Presença Cênica. Iniciamos por conceituar o termo Presença Cênica como representação da realidade, partindo da ideia do treinamento e daquilo que se quer dizer na performance. Traz para reflexão e contextualiza a Presença Cênica sob o olhar de alguns pensadores das artes e verticaliza o tema a partir dos Dispositivos da Presença, assim como do tripé da Presença: Construção da Presença, Manutenção da Presença e Virtualidade da Presença. Paralelo, acompanhamos entrevistas dadas, pela Cia Luis Garay, a este pesquisador e a partir dos testemunhos acompanhamos a trajetória do diretor e da perfomer Florencia Vecino. Por fim, são apresentadas as considerações finais, levando em conta o recorte da pesquisa.
Impro ou Improv é uma forma de teatro em que o espetáculo é criado durante sua execução com a presença da plateia. Forma de arte influenciada diretamente pelos trabalhos artísticos e literários do diretor inglês Keith Johnstone e da diretora estadunidense Viola Spolin, exige do ator um treinamento de habilidades específico. Esta pesquisa parte de minha experiência como atriz no espetáculo de Teatro-Esporte Qual o Seu Pedido? em Brasília-DF articulada com os teóricos do Impro, com os Viewpoints desenvolvidos pelas diretoras estadunidenses Anne Bogart e Tina Landau, e os escritos do técnico de vôlei masculino, Bernardinho. Como trabalho de campo, tracei e experimentei um sistema de treinamento com o grupo Impro.Ato em Brasília-DF e prática docente com os alunos da disciplina Tópicos Especiais e Tendências do Teatro Contemporâneo: Teatro-Esporte e Improvisação que ministrei no Curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia. Essas práticas contribuíram para se refletir sobre a importância do treinamento em Impro na formação de um ator-improvisador. Os desdobramentos da pesquisa, como a participação no curso intensivo do Centro de Treinamento em Improviso Second City em Chicago-IL, EUA, e a execução do espetáculo Linha Vermelha com o Impro.Ato, também foram pontuais nas reflexões a cerca do treinamento proposto e os resultados obtidos.
Esta pesquisa tem o objetivo principal de investigar a contemporaneidade da interpretação melodramática a partir do olhar de Pedro Almodóvar. Como recurso metodológico, optou-se pelo formato do laboratório experimental, entendendo-o como um propício espaço para a reflexão, percepções corporais e explorações práticas de possibilidades criativas ao trabalho do ator. Para isso, partiu-se dos estudos do melodrama francês do século XIX, tendo como paradigma Jean Marie Thomasseau e o recorte de três obras de Pedro Almodóvar – A lei do desejo, De salto alto e Tudo sobre minha mãe –, com o objetivo de experimentar convenções do melodrama tradicional na temática contemporânea em um espaço de improvisação. Foi gerado um rico material, fontes para análise, que revelaram um importante recurso no processo de criação atorial.
A presente pesquisa analisa e interpreta as peças Death of salesman [A morte do caixeiro viajante] (1949), do dramaturgo norte-americano Arthur Miller (1915 - 2005), e A Moratória (1955), do dramaturgo brasileiro Jorge Andrade (1922 - 1984), apoiando-se na forma da tragédia moderna, e baseando-se em ambos enredos, isto é, nos textos teatrais e nos seus respectivos conteúdos dramáticos reflexivos. Tais dramas mostram que tanto Miller quanto Andrade dividiram a mesma inquietude, propondo conflitos baseados em crises históricas, com o objetivo de evidenciar a luta do homem comum contra a sociedade, através do cotidiano de dois patriarcas e suas famílias, os quais estão deslocados com o desenvolvimento social e econômico de meados do século XX. Para entender esses e outros conflitos e como estão inseridos dramaturgicamente, este estudo está organizado da seguinte forma: o primeiro capítulo contextualiza historicamente a tragédia até sua condição moderna, após a influência do drama e de sua crise, com o propósito de se chegar à discussão sobre a tragédia e sua condição liberal adquirida na contemporaneidade. O segundo capítulo, apresenta a vida e a obra de ambos os dramaturgos, seguida das considerações iniciais acerca das peças em questão e de seus respectivos conteúdos históricos. E o terceiro capítulo, compara e analisa os aspectos relevantes de ambos os enredos, tais como: o conflito entre pais e filhos, a representação das mulheres, dos protagonistas como heróis modernos, das casas como plano de fundo das ações dramáticas e dos recursos formais cênicos que ajudam a dar expressividade às inquietações e à realidade subjetiva vivida pelos personagens.