Se um corpo é o centro da vida humana, ao tomar o corpo do cidadão como coisa, o
Estado nega-lhe a possibilidade da própria vida, mesmo antes de matá-lo. E se ao matar,
nega que o fez, constitui-se como criminoso duplamente: pelo assassinato e pela
mentira. Fábrica de Chocolate, texto teatral de Mario Prata, escrito em 1979, trata
exatamente de um desses momentos, em que um operário é reduzido à condição de
coisa nas mãos de seus torturadores/assassinos, crime que é transformado em suicídio
pelo Estado. O objetivo desta dissertação é analisar esse texto teatral, usando como
chave de leitura os conceitos de mentira – e sua relação com a memória – e de alegoria
para demonstrar o processo de ficcionalização da violência engendrada pela ação de
torturar, de assassinar e de mentir e da consequência política disso. Assim, foi
importante para a concretização dessa tarefa um diálogo com muitas obras dentre elas a
―História da mentira: prolegômenos‖, de Jacques Derrida, Verdade e política, de
Hannah Arendt, Memória, esquecimento, silêncio, de Michael Pollak, Origem do drama
trágico alemão, de Walter Benjamin, e Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I,
de Giorgio Agamben.