Na década de 1960, a ascensão militar ao poder estatal e o recrudescimento da censura propiciaram uma sucessão de manifestações de oposição ao regi-me no campo da cultura. No aspecto institucional, destacou-se a concretização de um plano de centralização da censura no decurso dos anos 1960, a edição de novos instrumentos legais a partir de 1965 e a reformulação administrativa das instâncias censórias durante a década de 1970. No setor artístico, projetaram-se a organização da campanha “Contra a censura, pela cultura” e a deflagração de uma greve geral dos teatros, ambas em 1968. Até 1967, as manifestações públicas de oposição à censura restringiram-se ao eixo Rio-São Paulo e se consolidaram como ação coletiva. Na sequência, ganharam projeção nacional e migraram para a esfera jurídica e, depois, para o campo econômico. Tendo em conta todo esse panorama, analisar as formas de atuação do meio teatral na “frente de resistência” é o principal objetivo deste artigo.
Este artigo estuda o Grupo Teatro da Cidade (GTC), privilegiando algumas formas de comunicação e cultura de uma região. Trata-se de um grupo de teatro profissional que se estabeleceu em Santo André, no ABC paulista, entre 1968 e 1978, tendo atuado num período de intensa repressão institucional. Seus membros, ao narrarem suas lembranças, rememoraram experiências diversas dos mecanismos de controle social, entrelaçando-as à ação da censura e às manifestações artístico-culturais na cidade. Pretende-se, assim, identificar, sob o ponto de vista das pessoas envolvidas (atores e atrizes do GTC), como se deu a ação das forças repressivas e, em particular, da censura, buscando recuperar as memórias do medo.