O presente artigo tem como objetivo a análise de uma
pequena parcela da crítica e da historiografi a de Decio de Almeida
Prado, notório estudioso do teatro brasileiro, circunscrita a temas
que só poderiam aparecer de modo periférico em sua obra, como o
circo e outros gêneros das artes cênicas – geralmente considerados
“menores” segundo uma certa visão de classe. Dividido em quatro
partes – “As crônicas”, “Um crítico elitista e conservador”, “O teatro
e a salvação pelo popular” e “O palhaço no teatro” –, este trabalho
aborda, inicialmente, as críticas que Decio de Almeida Prado escreveu
sobre espetáculos de circo, passando, em seguida, ao exame de
alguns pressupostos teóricos de sua historiografia para, enfim, se
deter sobre as críticas de teatro com elementos circenses.
O texto apresenta algumas articulações entre o
desconhecimento e os infi ndos preconceitos acerca do teatro de
revista brasileiro. A forma revisteira – em sua totalidade – não consta
nas panorâmicas de história do teatro brasileiro, decorrendo daí uma
repetição, sobretudo de natureza ideológica, contra o gênero e seus
artistas.
Até a década de 1940, o negro no teatro brasileiro, mesmo quando em personagens de destaque, quase sempre foi retratado por meio de certas caricaturas ou estereótipos herdados do período da escravidão. Entre o final do século XIX e começo XX, as personagens negras aparecem muitas vezes representadas em figuras dramáticas femininas como a mulata bela e sensual (reboladeira e carnal, pernóstica ou faceira), a bá (ama-de-leite geralmente negra beiçuda e gorda, confidente, chorosa e prestativa), a baiana macumbeira (em especial a vendedora de quitandas, vestida com saia rodada, bata de renda, turbante, pano-da-costa, colares e balangandãs), a preta velha (africana idosa conhecedora de segredos); em personagens masculinos, como o negrinho espertalhão (agregado da casa-grande), o bobalhão (pouco inteligente; estúpido, ignorante, imbecil); o malandro (astuto, bon vivant); o pai João (na maioria das vezes negro velho, dócil, conformado e submisso). Nos idos de 1944, surge no Rio de Janeiro um grupo de teatro formado por atores negros propostos a problematizar e revisar a tradição cênica de representação da “raça” levando aos palcos textos ligados aos temas das culturas afro-brasileiras, aos conflitos raciais e ao estigma da cor negra. Trata-se do Teatro Experimental do Negro (TEN). A presente investigação visa compreender as propostas dramatúrgicas deste grupo para a construção da personagem negra, tendo como base os estudos de Anatol Rosenfeld, Antonio Candido, Décio de Almeida Prado (2000), Renata Pallottini (1989) e Sábato Magaldi (1962), e partindo da analise de duas específicas peças do repertório do TEN, que estão reunidas na coletânea Drama para negros e prólogo para brancos, publicada em 1961. São elas: O filho pródigo (1947), de Lúcio Cardoso e Sortilégio (1951), de Abdias do Nascimento.