Tendo em vista a efemeridade da cena teatral, que se esvai entre o cerrar das cortinas após cada apresentação, propomos tomar para nossa análise as críticas teatrais, por serem registros que sobrevivem às intempéries do tempo e por acreditarmos que elas nos possibilitam compreender minúcias das encenações que não encontramos em outros materiais de pesquisa. Aqui iremos trabalhar com as críticas sobre a encenação de O percevejo (em 1981 no Teatro Dulcina, do Rio de Janeiro, e em 1983 no Sesc Pompeia, em São Paulo), texto escrito pelo poeta russo Vladímir Maiakóvski (1893-1930) em 1928, traduzido e levado aos palcos brasileiros pelo diretor Luís Antonio Martinez Corrêa (1950-1987).
Em texto publicado no Diário do Rio de Janeiro, durante março de 1866, Machado de Assis tratou de algumas peças teatrais de José de Alencar, incluindo O que é o casamento?, levada à cena em 1862. De acordo com a interpretação de Machado de Assis, Alencar responderia à pergunta contida no título da peça mostrando que não se poderiam extrair “conclusões gerais” sobre o casa-mento. Neste artigo, propõe-se que, no ano de 1879, Machado de Assis reelaborou essa leitura de O que é o casamento? em seu conto “Curiosidade”, recolocando-a de modo a suscitar um debate, de teor relativista, sobre a possibilidade de que a ficção oferecesse respostas para a “vida real”.
O presente artigo tem como objetivo a análise de uma
pequena parcela da crítica e da historiografi a de Decio de Almeida
Prado, notório estudioso do teatro brasileiro, circunscrita a temas
que só poderiam aparecer de modo periférico em sua obra, como o
circo e outros gêneros das artes cênicas – geralmente considerados
“menores” segundo uma certa visão de classe. Dividido em quatro
partes – “As crônicas”, “Um crítico elitista e conservador”, “O teatro
e a salvação pelo popular” e “O palhaço no teatro” –, este trabalho
aborda, inicialmente, as críticas que Decio de Almeida Prado escreveu
sobre espetáculos de circo, passando, em seguida, ao exame de
alguns pressupostos teóricos de sua historiografia para, enfim, se
deter sobre as críticas de teatro com elementos circenses.
Crítico teatral aos vinte anos de idade, Machado de Assis registrou as transformações pelas quais o teatro brasileiro vinha passando em meados do século XIX. Com o florescimento do teatro realista francês, o modelo teatral romântico, carregado nos exageros cênicos, tanto no que diz respeito à ornamentação do palco quanto aos movimentos físicos dos atores, passa a ser criticado e combatido. O que se desejava era a renovação cênica e de repertório a partir de um maior comedimento dos artistas e da substituição de enredos cujos núcleos temáticos eram a nação por temáticas calcadas nos problemas familiares. Documentando esse momento de transição do teatro brasileiro e estimulado pelas novas comédias realistas, Machado de Assis produz as suas primeiras peças teatrais cômicas. Partindo-se da perspectiva de que o riso representa uma função indispensável ao pensamento, na medida em que nos faz ver o mundo com outros olhos, tornou-nos pertinente a análise das funções e dos procedimentos cômicos nas peças de Machado de Assis. Com esse propósito, selecionamos duas peças: Hoje avental, amanhã luva (1860) e O caminho da porta (1862), obras cujos núcleos temáticos giram em torno da figura feminina. Como subsídios para embasar nossas análises, apoiamo-nos nas teorias sobre o cômico de Bergson (2007), Freud (1977) e Jolles (1976), a partir das quais percebemos que a comicidade empreendida por Machado de Assis tanto pode assumir um ato de significação social que cumpre a tarefa de corrigir comportamentos desviados, aproximando-se, dessa forma, da teoria de Bergson como também assume a perspectiva freudiana de que o cômico suscita prazer na medida em que proporciona o extravasamento de conteúdos reprimidos, desvelando, por tanto, o que é ocultado.