PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
Essa tese objetiva estudar a obra teatral do escritor Dias Gomes sob o enfoque do materialismo
dialético e do teatro épico. Para isso, nos propomos realizar um recorte para destacar momentos
representativos de sua contribuição ao processo de modernização do teatro brasileiro. Além
disso, é necessário perceber como ele se utiliza de correntes estéticas europeias, que exerceram
grande influência no teatro brasileiro moderno, e se aproxima de grupos teatrais e de outros
autores teatrais (ou de outras manifestações literárias) para contribuir com a formação de um
sistema teatral brasileiro. Discussões sobre as relações entre arte e sociedade, o processo de
modernização do teatro brasileiro e a contribuição de Dias Gomes à formação de um sistema
teatral nacional formam, assim, o tripé no qual se sustentam os propósitos da tese. Em cada
capítulo, enfatiza-se o modo como ele se apropria de propostas estéticas como forma de
perspectivar o momento histórico, assim como se aproxima de outros autores e grupos caros a
essa problematização. No primeiro capítulo, procuramos revisitar certos movimentos de
reformulação teatral e de crítica (opereta, comédia de costumes, elementos do expressionismo
e do naturalismo) até as décadas de 1940 e primeira metade da década de 1950, e como isso é
formalizado na peça Os cinco fugitivos do Juízo Final em sua aproximação com A moratória,
de Jorge Andrade. Além disso, ressalta-se a influência em Gomes dos propósitos da segunda
geração do romance moderno, mediante aproximação temática da peça Eu acuso o céu com o
romance Vidas Secas. No segundo capítulo, escolhemos as peças O pagador de promessas, O
Santo Inquérito e A Invasão para destacar como o dramaturgo se insere no contexto anterior ao
golpe de 1964, utilizando-se de um realismo afeito ao teatro épico para enfatizar a necessidade
de desconstrução do herói tradicional, com características herdadas da tragédia grega, com
vistas à crítica das verdades cristalizadas na sociedade. Para isso, destaca-se a sua aproximação
com as propostas do Teatro de Arena, em especial, com a peça Eles não usam black-tie, de
Gianfrancesco Guarnieri e, novamente, com a dramaturgia de Jorge Andrade, com a peça
Vereda da salvação. O terceiro capítulo marca a aproximação da obra de Gomes com a de
Chico Buarque e a de Augusto Boal através do estudo das peças O berço do herói, Roda viva e
Arena conta Tiradentes em um contexto imediatamente posterior à instauração do golpe no
qual, através da análise de personagens despsicologizados, busca-se uma leitura crítica que vise
destacar a figura do herói em contextos retratados tanto pela perspectiva alegórica do todo
quanto pela forte crítica à indústria cultural vigente. No quarto capítulo, em contexto político
marcado pelo autoritarismo (décadas de 1960 e 1970), focalizamos as estratégias de Gomes
para permanecer fiel à sua temática, driblando a truculência da censura através do uso da
alegoria e formalizando questões importantes mediante a exploração do conceito de nacionalpopular.
Nesse sentido, serve à sustentação do capítulo a análise das peças O túnel, vargas e O
rei de Ramos, em diálogo com textos de Chico Buarque (A ópera do malandro), de
Gianfrancesco Guarnieri (Ponto de partida), ou mesmo de Brecht (A resistível ascensão de
Arturo Ui). Por fim, o último capítulo destaca os propósitos do autor, já como pensador de
teatro, a partir do início do processo de reabertura democrática (1979), em transitar entre outras
formas teatrais e de experimentar novos meios ficcionais (TV, rádio, cinema), permanecendo
fiel à sua temática nacional-popular. Nesse sentido, cabe uma análise à sua formalização
estética pelas peças Campeões do mundo e Meu reino por um cavalo, em diálogo com Vianinha
(Rasga Coração) para perceber como as questões sociais estão mais conectadas ao passado em
que foram forjadas do que à compreensão do novo quadro político e social. A tese discute e
atesta o papel decisivo do te