A tese aborda a produção dramatúrgica dos estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo relacionando-a com o crescimento da cidade e movimentos artísticos como o Romantismo e o Realismo, além do melodrama. Também traz um panorama da atividade teatral na cidade entre os anos de 1846 e 1873, relatando a dinâmica das edificações teatrais, atuação de empresários e de companhias locais e visitantes.
Nesta dissertação, tem-se por objetivo discutir a crise do drama a partir da peça O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues. Levantada pelo crítico Peter Szondi em sua Teoria do drama moderno, mas aqui adaptada, essa noção de crise aponta para a necessidade de se desenvolver uma visão histórica e dialética da forma dramática, o que escaparia às poéticas normativas. Em O beijo no asfalto, os personagens se caracterizam como modernos por serem reprimidos, externamente, pela heteronormatividade, e recalcados, internamente, pelos desejos homoeróticos. Não têm, portanto, a liberdade reclamada pelas dramatis personae antigas. São, segundo Freud, indicativos de uma peça psicopática, a qual ao invés de produzir no público a identificação, gera o incômodo. De acordo com Hegel, a verdadeira obra de arte é aquela em que o conteúdo e a forma são completamente idênticos. Acrescente-se a “dificuldade”: o homem moderno heteronormativamente reprimido é matéria histórico-social que se sedimenta como personagem, gerando tensão na relação indissociável entre conteúdo e forma dramáticos. Para o caso brasileiro, para além da crise que é pensada temporalmente por Szondi, as especificidades históricas em contradição dizem respeito também ao fuso horário, o que faz inclusive buscar complementação teórica nas obras de Anatol Rosenfeld e Iná Camargo Costa. Assim, pensar as categorias aplicadas ao Brasil traz sua própria dicotomia: de um lado, o crítico Décio de Almeida Prado fazia observar o adoçamento das linhas de contorno das formas europeias como traço genuíno do teatro nacional, o que é inclusive reforçado pela noção de cordialidade do brasileiro defendida pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda; de outro lado, dramaturgos batiam de frente com esse traço ao desenvolverem um teatro que se queria cada vez mais épico. Nelson Rodrigues, em O beijo no asfalto, une as duas coisas: com a ironia criada pela metaficção, a ficção jornalística dentro da peça, além de desnudar as engrenagens da informação, utiliza as “formas adoçadas” de maneira a provocar distanciamento, dando conta dos personagens condicionados por forças anônimas e exigindo um ajuste sincrônico das formas teatrais.
Este trabalho trata da introdução e da repercussão do melodrama francês no Brasil, no século XIX. Visando elucidar a trajetória dessa forma teatral no contexto brasileiro, o estudo concentrou-se em reunir e sistematizar informações diversas e originais, provenientes da recuperação de fontes históricas e de material teórico publicado no país e no exterior, especialmente na França, berço do melodrama. Para tanto, foi realizada uma série de pesquisas em catálogos de bibliotecas nacionais e estrangeiras, que possibilitaram a organização de referenciais bibliográficos, a consulta de obras dramatúrgicas originais e levantamentos, em periódicos brasileiros do século XIX, acerca do uso do termo melodrama e acerca da encenação, em nossos palcos, de peças melodramáticas escritas pelos principais autores franceses de melodramas dos Oitocentos. Os resultados obtidos com essas pesquisas orientaram a comparação entre sistemas culturais distintos (França e Brasil) e a análise das implicações do estabelecimento dessa forma teatral no campo social e no campo literário, conforme o entendimento de que a literatura dramática não se limita à linguagem verbal registrada nas peças. Nesse sentido, o presente estudo apresenta um panorama sobre dramaturgia, espetáculos, público e comentários em relação às peças e à estética melodramática, presentes em discursos regularmente veiculados pela imprensa, como um registro do imaginário coletivo da população. Desse modo, espera-se contribuir para a compreensão deste fenômeno, associado ao contexto peculiar de sua recepção no Brasil, tendo em vista que a relação entre as obras encenadas nos palcos brasileiros e seu público acompanha e reflete a produção artística neste importante período histórico de transformação social no país.