O ensaio apresenta o estudo sobre Bertolt Brecht feito pelo dramaturgo e diretor Timochenco Wehbi (1943-1986). A partir da montagem de Os fuzis da Senhora Carrar por estudantes da Escola de Artes Dramáticas (EAD), ele levantou, como assistente de direção, elementos básicos do método de Brecht e adequação da montagem na perspectiva do Teatro Épico para um grupo de estudantes de uma escola pública de Franco da Rocha, no estado de São Paulo, entre 1967 e 68. Observou ainda a receptividade da peça entre os alunos e a continuidade de um possível trabalho na escola com dramaturgia pela formação de um grupo de teatro. Os resultados compuseram a dissertação de mestrado apresentada para obtenção do título pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1972.
Este trabalho tem como corpus a comédia musical Ópera do malandro, composta
em 1978 por Chico Buarque de Hollanda. O objetivo desta pesquisa é demonstrar
que o referido autor utilizou-se da teoria do teatro épico de Bertolt Brecht para traçar,
criticamente, o perfil da sociedade brasileira inserida no regime ditatorial de 1964 a
1984. O método utilizado para a análise política da peça teatral em questão foi o
estudo comparativo entre o comportamento de algumas de suas personagens
marcantes e o momento histórico que o país atravessava na década de 1970. Para
tanto, foram apreciados alguns trechos da obra, incluindo diálogos e música, bem
como, as composições ―O malandro‖, ―Se eu fosse o teu patrão‖ e ―Geni e o
Zepelim‖. Como suporte teórico o trabalho utiliza Bertolt Brecht (1978, 2004), Anatol
Rosenfeld (2011, 2012), Georg Lukács (1965, 1970), Peter Szondi (2001), Adélia
Bezerra de Meneses (2002), Solange Ribeiro de Oliveira (2011), dentre outros
nomes. O estudo da Ópera do malandro, a partir das ações das personagens e das
canções, confirma que Chico Buarque de Hollanda, por meio da teoria de Brecht,
metaforizou a situação política, social e econômica de um Brasil governado por
militares, a fim de criticá-la.