Em Rasga Coração observa-se que a identidade e distinção características entre seus personagens potencializam-se na contracena, propositadamente, e conformam o desenho estrutural da peça, a partir do que se capta um direcionamento semântico que corresponde à consciência do trato do pavimento ideológico de sua obra. A análise desse desenho estrutural alcança indicar que dado do real é nela essencialmente formalizado. Assim, tendo como foco os deslocamentos do(s) constituinte(s) dramático “revolucionário” almeja-se, a partir desse recorte, verificar de que maneira a sua posição relativa em relação aos outros constituintes que o texto organiza e suas movimentações ao longo da peça se dão em função da necessidade de gerenciar a intriga, garantindo a orientação de uma linha interpretativa e o cumprimento de uma função dada que seja, pois, conduzir à revisão do significado de “revolucionário” e ao atestamento da justeza de determinadas convicções políticas e opções estéticas.
Estuda o Tropicalismo, caracterizado como um movimento artístico brasileiro, inserido no âmbito da juventude contestadora da década de 1960. Mostra que a produção cultural, pós-golpe de 1964, encaminhou para um repensar do papel do artista na sociedade brasileira. Analisa nesse contexto, as obras conceituais como o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, a peça O Rei da Vela, de Oswaldo de Andrade, encenada pelo grupo Oficina; a obra-ambiental Tropicália, de Hélio Oiticia; o disco-manifesto Tropicalia ou Panis et Circencis e os discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil, que traçaram um perfil da vanguarda dos tropicalistas, durante o ano de 1976. Discute o que unia esses diversos setores artísticos, a utopia da construcão de uma cultura brasileira capaz de superar o subdesenvolvimento e a imagem de Brasil antropofágico, que resumia o desejo de assumir e afirmar a brasilidade.
Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio
de Janeiro
A família tradicional é composta por pai, mãe e filhos que se encontram em um
laço de afetividade constituído a partir do encontro nupcial entre os cônjuges. Sobre essa
instituição, recaem os preceitos éticos que devem ser fundamentados na educação do
indivíduo que, no seio do lar, é submetido desde o ventre materno à legislação moral,
formadora de um homem íntegro em sociedade e respeitado em sua digna moralidade. A
associação desses princípios à concepção de família se constitui através dos dogmas
religiosos, que consideram família um sistema sagrado. Diante dessa concepção tradicional e
sacra, Nelson Rodrigues encena, em suas peças, as ruínas deflagradas nas relações sem afeto
desses “entes queridos”. Acerca disso, suas produções são representações teatrais em que são
desveladas as máscaras morais através de personagens em crise com seus conflitos interno e
externo. São figuras cênicas multifacetadas em suas representatividades ambivalentes de um
teatro, cuja fatalidade do trágico e a irreverência do cômico atribuem às peças de Nelson
Rodrigues um caráter tragicômico. Esse caráter é manifestado no duplo contraditório de uma
trama cambiante entre o drama da falência de famílias rasuradas em suas intimidades
conturbadas pela miséria de personalidades cênicas desnorteadas entre a intensidade do amor
e o mal-estar da irritação. A tragicomédia no teatro de Nelson Rodrigues é revelada na
exacerbação das marcas trágicas, principalmente, por meio de seu teatro desagradável, no
qual o dramaturgo põe em cena o caos e o desespero de indivíduos que habitam o mesmo
ambiente, mas não se suportam em convivência. Na desmesura de suas ações cênicas,
alcançam as personagens de Nelson Rodrigues o nível do patético, ridículo e hilariante em
tramas que tornam jocoso o homem de aparência sublime em estado de decadência, drama e
piada no esvaecimento de famílias em ruínas. Assim sendo, tomaremos para análise dessa
questão, as peças do teatro desagradável de Nelson Rodrigues, com especial destaque a
Álbum de família (1945), Anjo negro (1946) e Doroteia (1949) e apoiando-nos nos estudos
de Flora Sussekind, Ronaldo Lima Lins, Victor Hugo Adler Pereira, Ângela Leite Lopes,
Sábato Magaldi e Ruy Castro.
Esta dissertação apresenta uma interpretação da trajetória de Francisco Solano Trindade dentro do debate das relações raciais brasileiras entre os anos de 1930 e 1960, verificando a relação estabelecida entre a raça e a classe social no seu pensamento, no fazer artístico e na sua prática social, junto ao Partido Comunista do Brasil. A análise foi realizada a partir do exame do registro: dos poemas presentes em três livros editados pelo poeta; do exemplar do espetáculo folclórico elaborado pelo teatrólogo e encenado pelo Teatro Popular Brasileiro; da cobertura jornalística do período; de entrevistas concedidas pelo próprio à imprensa; dos registros do DOPS (Departamento de Ordem Social e Política) e de entrevistas com seus familiares e contemporâneos. Procuro registrar a resistência de Solano Trindade ao processo de assimilação física e cultural do negro e a defesa de uma identidade afro-brasileira formulada e institucionalizada no Centro de Cultura Afrobrasileiro, registrada e comunicada através de uma linguagem simbólica presente na poesia e no teatro, entendidos como instrumentos de intervenção social.
A dissertação analisa o livro Panorama do teatro brasileiro (1997 [1962]), de Sábato Magaldi, considerado um dos “pais fundadores” de nossa historiografia teatral. Esta obra tornou-se um cânone dos estudos históricos teatrais e um guia fundamental de aulas nos cursos de graduação e pós-graduação em teatro e artes cênicas. Partindo de uma minuciosa análise deste e de outros livros deste crítico, pesquisador e historiador, são investigadas as matrizes referenciais que nortearam esta escrita, procurando-se entender os jogos de força do campo intelectual e artístico no qual o autor em questão atuava, as alianças estratégicas firmadas, a posição ocupada e as disputas que levaram à construção e consagração desta narrativa. O objetivo é compreender os projetos de teatro e história por trás da realização dessa obra. A partir desta abordagem crítica e sociológica, será possível debater as formas de hierarquização das obras teatrais propostas pelo livro estudado e as manifestações excluídas desta historiografia.
Estudo da trajetória do empresário italiano Paschoal Segreto e sua relação com as transformações no campo do entretenimento e a criação de um novo mercado para a camada média nascente no Rio de Janeiro do início do século XX.
Esta tese objetiva discutir o trabalho teatral desenvolvido pela Companhia do Latão,
grupo paulistano formado em fins da década de 90. O estudo perpassa a produção
dramatúrgica e cênica, bem como sua produção teórica, com o intuito de identificar o
projeto estético forjado por um preciso projeto ideológico anticapitalista. Nesse sentido,
debruça-se sobre a peça Ópera dos vivos, estreada na cidade do Rio de Janeiro em 2010.
Pelo estudo desenvolvido compreende-se que a Companhia do Latão se insere, com alto
grau de consciência da linguagem, nas contradições do presente, nas quais o
pressuposto crítico problematiza, pela composição cênica, o campo representacional em
que o capitalismo ideologicamente se projeta e constantemente se recompõe.