Crítico teatral aos vinte anos de idade, Machado de Assis registrou as transformações pelas quais o teatro brasileiro vinha passando em meados do século XIX. Com o florescimento do teatro realista francês, o modelo teatral romântico, carregado nos exageros cênicos, tanto no que diz respeito à ornamentação do palco quanto aos movimentos físicos dos atores, passa a ser criticado e combatido. O que se desejava era a renovação cênica e de repertório a partir de um maior comedimento dos artistas e da substituição de enredos cujos núcleos temáticos eram a nação por temáticas calcadas nos problemas familiares. Documentando esse momento de transição do teatro brasileiro e estimulado pelas novas comédias realistas, Machado de Assis produz as suas primeiras peças teatrais cômicas. Partindo-se da perspectiva de que o riso representa uma função indispensável ao pensamento, na medida em que nos faz ver o mundo com outros olhos, tornou-nos pertinente a análise das funções e dos procedimentos cômicos nas peças de Machado de Assis. Com esse propósito, selecionamos duas peças: Hoje avental, amanhã luva (1860) e O caminho da porta (1862), obras cujos núcleos temáticos giram em torno da figura feminina. Como subsídios para embasar nossas análises, apoiamo-nos nas teorias sobre o cômico de Bergson (2007), Freud (1977) e Jolles (1976), a partir das quais percebemos que a comicidade empreendida por Machado de Assis tanto pode assumir um ato de significação social que cumpre a tarefa de corrigir comportamentos desviados, aproximando-se, dessa forma, da teoria de Bergson como também assume a perspectiva freudiana de que o cômico suscita prazer na medida em que proporciona o extravasamento de conteúdos reprimidos, desvelando, por tanto, o que é ocultado.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Londrina.
315 páginas
Sendo a obra literária capaz de recriar e questionar a realidade histórica por meio da ficção, esta tese objetiva analisar a temática da violência, sua representação e espetacularização ficcional em algumas obras de caráter híbrido do escritor contemporâneo Sérgio Sant’Anna. Como corpus de análise, as narrativas escolhidas foram: Um romance de geração: teatro-ficção (1980), A tragédia brasileira: romance-teatro (1987) e Um crime delicado (1997). No Brasil, a frustração de uma época contraditória, acentuada pela ditadura militar (1964 a 1984) levou a uma tentativa de compreensão das experiências vividas pela sociedade em suas diferentes instâncias: política, econômica, cultural, entre outras. No contexto de lutas populares e de radicalização ideológica, muitos escritores assumiram por tarefa o jogo que existe entre os destinos da nação e a reconstrução de uma subjetividade que aos poucos foi sendo esfacelada pela violência e pela chamada sociedade do espetáculo. Nesse movimento de contestação e de ressignificação do posicionamento social por meio da literatura, destaca-se a obra de Sérgio Sant’Anna por ter sido escrita sob ou sobre a ditadura. Nessa perspectiva, refletindo ainda que a cultura humana pode ser comparada a um jogo, em que há aproximações e (re)apropriações do conhecimento, e que o texto ficcional também é constituído por jogos narrativos entre o narrador, que pode se constituir como “eu” soberano mediante o “outro”, esta tese procura defender que alguns textos literários vão além das limitações de um realismo considerado brutal. Ela analisa o discurso que há nos textos selecionados pelo viés da temática da violência em sua manifestação física e/ou simbólica, na expectativa de verificar se a presença do “novo homem”, ou seja, o homem pós-ditadura militar, se confirma como ação condizente com seus anseios contemporâneos de liberdade. Analisa também como esse sujeito pode controlar suas paixões e instintos para que não caia no paradigma de homem violento. Outro fator relevante diz respeito ao estudo de como a violência é representada na obra de Sant’Anna em consonância com as outras artes, especialmente a arte dramática. Ao assumirem um caráter híbrido de representação que une literariedade e teatralidade, os textos de Sant’Anna proporcionam um interessante diálogo entre a Literatura e o Teatro. Esse fator torna-se, portanto, indispensável como mais uma proposta de representação dos dramas existenciais de personagens que se veem acuadas em tempos de opressão.