Este trabalho analisa a importância das leituras na construção do modelo herético e subversivo da identidade feminina representada por Branca Dias na peça teatral O Santo Inquérito, de Dias Gomes. Na obra, a protagonista é julgada pelo Santo Ofício por um crime nada convencional: o conhecimento adquirido por meio de leituras proibidas. Como os livros lidos por Branca Dias faziam parte do Index Auctorum et Librorum, criado em 1559 pelo Papa Paulo IV, em Coimbra, a punição recebida pela filha de Simão Dias só se confirmaria por meio de sua confissão. Ao ser questionada, a protagonista demonstra um conhecimento próprio de culturas letradas, como a dos judeus. Além disso, há provas concretas, para os inquisidores, de que ela judaizava. Por isso, ela é condenada a morrer na fogueira. Outro aspecto de extrema riqueza, e que torna a peça de Dias Gomes contemporânea, é a discussão acerca do gênero, da interferência da Igreja nos costumes dos grupos étnicos durante o processo de colonização nos trópicos e da intervenção dos militares durante o golpe civil militar que instaurou a Ditadura no Brasil, apresentada com traços alegóricos. Branca Dias é, então, a representação das verdades humanas, ela é o bode expiatório que cumpre a função de revelar a ausência de liberdade de expressão no reinado do Tribunal do Santo Ofício e no período ditatorial.
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