O diálogo entre o teatro e a política se fez presente em diferentes momentos na história
do Brasil, principalmente nas décadas de 60 e 70. Neste período, uma das contribuições
políticas e artísticas que pode ser ressaltada é a escrita da peça Rasga Coração (1974),
de Oduvaldo Vianna Filho. Essa peça marca diretamente a trajetória do autor, por ser a
última peça escrita antes de vir a falecer e por trazer ao palco reflexões sobre os
conflitos de gerações entre pais e filhos, bem como de movimentos e disputas políticas
organizadas, no Brasil, durante diferentes períodos históricos. A análise de Rasga
Coração repercutiu quando estreada em 1979, após cinco anos de censura de seu texto,
e ainda traz, atualmente, contribuições importantes para os sujeitos e movimentos
sociais que visualizam no teatro um instrumento de enfrentamento das diferentes
situações de desigualdade vivenciadas pelo povo brasileiro. Nesse sentido, a presente
pesquisa procura, a partir da análise de Rasga Coração, amparada no diálogo com a
história e a política, colaborar para um melhor entendimento de Vianinha enquanto um
intelectual e artista de seu tempo, assim como discutir em que medida suas reflexões e
práticas contribuem para a reflexão sobre a atuação política dos movimentos sociais,
principalmente do Movimento Sem Terra e do Levante Popular da Juventude.
Instituto de Artes/ Programa de pós-graduação em Artes da Cena
266 páginas
Oduvaldo Vianna Filho é reconhecidamente um dos dramaturgos brasileiros de maior relevância da década de sessenta e setenta. Em sua obra buscou retratar o panorama político nacional, refletindo sobre questões como o imperialismo norte-americano, o papel da militância, a realidade do operariado e do camponês, a universidade, enfim, temáticas que, apesar de serem classificadas como "datadas", ainda hoje geram controvérsias. Dessa forma, esta dissertação de mestrado buscou aprofundar os estudos sobre a obra de Vianinha, tendo como foco central a análise das seguintes peças: A mais-valia vai acabar, seu Edgar; Brasil versão brasileira; O Auto dos 99%; Quatro quadras de terra e Os Azeredos mais os Benevides, produzidas pelo dramaturgo no período em que esteve vinculado ao Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). As análises foram realizadas com base nas obras de alguns teóricos que exerceram influências sobre o trabalho de Vianinha como, por exemplo, Bertolt Brecht, Erwin Piscator dentre outros. Sendo assim, foram utilizados os conceitos de teatro épico, teatro de revista e agitprop, fundamentais para a compreensão das peças. O resultado deste trabalho visa demonstrar que as obras dramáticas em questão possuem valor artístico e não apenas histórico, social ou político.