Esta dissertação tem por objetivo abordar algumas peças do dramaturgo brasileiro
Martins Pena, precursor da comédia de costumes brasileira, utilizando para tanto alguns
conceitos pertencentes à teoria do materialismo lacaniano. Partindo de um breve
panorama histórico envolvendo a questão do riso, bem como das formas teatrais que
estabeleceram fundamental importância para o surgimento das peças cômicas de Pena,
este trabalho encontra seu ponto de maior fôlego nas considerações sobre a violência na
peça Os dous ou O inglês maquinista e sobre a tolerância na peça A família e a festa na
roça, ambos os conceitos enviesados pelo olhar zizekiano. A violência, quando
abordada pela perspectiva do materialismo lacaniano, ganha maior abrangência do que
unicamente a agressão física, convencionada por Slavoj Žižek como violência subjetiva
(sendo possível que reconheçamos os autores dos atos violentos). Existem também
elementos agregados dentro da esfera da violência objetiva, menos perceptível, e que se
divide em sistêmica e simbólica (a primeira arraigada em nossas concepções sóciohistóricas
e a segunda presente nas questões de naturalização de um processo, como a
consideração de inferioridade de uma determinada classe ou etnia, a incorporar
discursos e pensamentos). Já a tolerância, longe de corresponder a uma aceitação
passiva do outro, exibe sua esfera mais nefasta quando admite apenas considerar o outro
enquanto indivíduo com valores, crenças e atitudes que não sejam diametralmente
opostos aos seus.