Este trabalho tenta acompanhar a presença do entremez no Brasil, a partir da reconstituição histórica de sua popularização como gênero teatral nos teatros portugueses, durante os séculos XVI e XVIII, e de sua disseminação enquanto gênero editorial como resultado do crescimento da atividade tipográfica e da leitura de folhetos impressos. O estudo assinala a presença do entremez no âmbito dos textos publicados em folhetos de cordel e analisa de que modo a prática da leitura de peças de teatro foi decisiva para a afirmação do gosto pela comédia popular, da qual se originou o modelo da comédia brasileira. O caso das traduções de Molière para o português exemplifica a força exercida pelo entremez sobre os autores portugueses e brasileiros que consagraram o sucesso da fórmula popular junto aos leitores
A presente pesquisa tem como objeto estudar o gênero entremez em peças de três autores nordestinos, representativos do teatro moderno brasileiro do século XX. Esse gênero cômico é ligado à festa da corte, marcado pelo uso da música, dança e pantomima. Tem como mote principal o entretenimento e a representação de situações cotidianas, com crítica de costumes, pois por meio do riso o dramaturgo traz reflexão. As peças escolhidas para estudo são: O homem da vaca e o poder da fortuna (1958), de Ariano Suassuna; Lazzaro (1948), de Francisco Pereira da Silva; Sobrados e mocambos (1972), de Hermilo Borba Filho. Minha proposta é estudar as confluências do popular e do medieval nas peças que trazem no seu bojo uma miscelânea de marcas medievais ibéricas com as cores locais nordestinas. A medievalidade está presente em uma via de mão dupla, ou seja, pelos modelos formais adotados em razão da aproximação com o teatro católico medieval ibérico e pela inserção da dramaturgia profana ao flertar com elementos da farsa e da comédia. O popular fica evidenciado na presença de personagens populares, no uso de ditados e de provérbios, na linguagem oral e em temas de acontecimentos contemporâneos, sobretudo por sua relação imbricada com o cordel. Os três autores nordestinos têm como fonte a cultura popular do Nordeste (romanceiro popular e festas populares), e esta tem origem na produção cultural da Idade Média. Assim, o romanceiro popular, as festas populares e suas respectivas fontes temáticas tornam-se pano de fundo das peças estudadas.