Em texto publicado no Diário do Rio de Janeiro, durante março de 1866, Machado de Assis tratou de algumas peças teatrais de José de Alencar, incluindo O que é o casamento?, levada à cena em 1862. De acordo com a interpretação de Machado de Assis, Alencar responderia à pergunta contida no título da peça mostrando que não se poderiam extrair “conclusões gerais” sobre o casa-mento. Neste artigo, propõe-se que, no ano de 1879, Machado de Assis reelaborou essa leitura de O que é o casamento? em seu conto “Curiosidade”, recolocando-a de modo a suscitar um debate, de teor relativista, sobre a possibilidade de que a ficção oferecesse respostas para a “vida real”.
Se, por um lado, foi a riqueza produzida pela mão de obra escrava que financiou a importação da ópera europeia para o Brasil, por outro, a proibição do tráfico negreiro foi instrumental para a instalação definitiva de um sistema de ópera no império tropical, uma vez que, como nota Luiz
Felipe de Alencastro, um dos efeitos da Lei Eusébio de Queiróz foi o aumento da importação de bens de consumo supérfluos ou de luxo, que substituíram os africanos como lastro na balança comercial brasileira. A literatura e a imprensa deixaram ricos testemunhos das venturas, desventuras e contradições desse momento. A partir da peça O demônio familiar (1857), de José de Alencar, bem como da polêmica travada entre Francisco Otaviano e Paula Brito a propósito dela, este artigo pretende explorar os vasos comunicantes entre os universos do teatro lírico e do regime escravista, no Rio de Janeiro ao redor de 1850.