Este artigo analisa a peça Rasto Atrás do dramaturgo Jorge Andrade e reflete sobre a busca da memória como material da sua escrita. As relações entre forma e estrutura cênica são investigadas, discutindo-se a estética expressionista, a multiplicidade de espaços, a simultaneidade de tempos, a metalinguagem e, em alguns momentos, a anulação do tempo. Texto auto-reflexivo e profundamente emblemático da obra de Jorge Andrade se constitui na investida mais funda do autor em busca de si mesmo, do seu povo, da sua sociedade.
Pretende -se investigar como a peça Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, mantém homologia estrutural com a topologia dos sonhos descrita por Freud e com a imagem do inconsciente, calcada no corpo da Vênus de Milo com gavetas (1936), escultura de Salvador Dalí, na sua fase marcadamente surrealista.
Fundador do teatro moderno brasileiro, Nelson Rodrigues instiga a reflexão em diversas áreas do conhecimento, quer seja no teatro, na literatura, na sociologia, na psicologia, na semiótica ou na filosofia. Nosso estudo busca confrontar o que oautor denomina como seu Teatro Desagradável (composto pelas peças míticas Álbum de Família, Anjo Negro, Senhora dos Afogados e Dorotéia) com o Teatro da Crueldade, de Antonin Artaud, buscando pontos de contato entre esses que foram momentosfundadores de uma nova poética. Neste sentido, utilizaremos como chave de leitura a poética do devaneio, de Gaston Bachelard, amparada na fenomenologia da imaginação simbólica e da imaginação material, cujo anseio é colocar-nos em contato com apotência geradora das imagens primordiais do poeta. Operando nas interfaces entre o mito, o arquétipo, a imagem e o signo poético, nossa investigação busca situar a obra do dramaturgo brasileiro no contexto das grandes transformações poéticas doséculo XX, no panorama do teatro ocidental, detectando e analisando os elementos de modernidade que a compõem.
O presente estudo realiza uma análise da obra O homem e o cavalo (1934), de Oswald de Andrade, na tentativa de demonstrar a importância da dramaturgia oswaldiana no processo de modernização do teatro nacional. A peça se divide em nove quadros nos quais se constrói uma síntese do processo de formação histórica ocidental. A tônica do texto é a desconstrução da sociedade capitalista, que tem em instituições como a religião, o matrimônio e a história os pilares de sua sustentação. Nossa leitura aborda, primeiramente, o aspecto formal da referida peça buscando apontar de que maneira a mesma se afasta da dramaturgia clássica e, ao mesmo tempo, quais as características da moderna dramaturgia já presentes no texto de Oswald de Andrade. Para tanto nos utilizaremos das contribuições de Peter Szondi sobre a formação do drama moderno, bem como das ideias de Abel e Rosenfeld para o estudo do meta-teatro e do teatro épico, correntes com as quais nosso objeto de estudo estabelece algumas relações. Em seguida nos voltamos para a relação entre as inovações da forma teatral concebidas por Oswald e o seu posicionamento ideológico, que marca fortemente o conteúdo da obra. Aqui é mister demonstrar o desejo do autor em produzir um teatro capaz de atuar na conscientização política do povo e gerar uma mudança social, neste sentido a peça se aproxima do posicionamento político de Brecht e do teatro épico. Por isso analisaremos os recursos da paródia e da carnavalização no tratamento dado à história com vistas a demonstrar o seu caráter artificial e a provocar uma ação conscientemente transformadora por parte dos homens que a constroem. Desta forma pretendemos demonstrar que há em O homem e o cavalo uma síntese muito bem elaborada entre elementos de inovação da forma dramática e o conteúdo ideologicamente marcado pelo posicionamento político de esquerda assumido pelo autor. Essa síntese faz com que a peça se transforme em um marco importante na história da dramaturgia brasileira, como precursora no processo de modernização do nosso teatro, que assume sua maturidade com o surgimento de Vestido de Noiva (1943), de Nelson Rodrigues.