Centro de Letras e Artes - Programa de Pos-graduação em Teatro
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O presente estudo investiga a possibilidade de aplicação do Sistema do Teatro do Oprimido na prática pedagógica, objetivando a superação da contradição educador-educando-preconizada por Paulo Freire. Foi elaborado um planejamento para as aulas de Artes Cênicas realizadas em 25 encontros, com educandos de duas turmas de 8ª série do curso de 1° grau em uma escola do município do Rio de Janeiro. O Sistema de Teatro do Oprimido foi utilizado como procedimento pedagógico para o desenvolvimento das atividades. Descrevo o contexto onde se deu a pesquisa: a escola, os alunos, os professores, a organização das aulas e as atividades realizadas durante os encontros. Os resultados do estudo revelam que, embora, educador e educando estejam condicionados a reproduzir em sala de aula as relações sociais autoritárias e hierarquizadas, é viável uma transformação destas relações através do exercício do diálogo. Concluí que a utilização do Sistema de Teatro do Oprimido é adequada para educandos da 8ª série do 1° Grau. Suas técnicas propiciam ao educando o uso da linguagem teatral como um meio de expressão, comunicação e reflexão sobre si mesmo e sobre sua realidade, desenvolvendo nele a consciência crítica. Destaco, ainda, neste estudo, a importância de democratização das relações escolares, tanto a nível pessoal quanto administrativo, para a formação de cidadãos críticos e livres.
O século XX marca uma época em que escritores pós-coloniais despertam interesse por A Tempestade (1610), de Shakespeare, como capital cultural para destacar as desigualdades do encontro colonial e enfrentar os seus efeitos contemporâneos. Ao se apropriarem dessa peça, tais escritores se ocupam de uma prática politizada e atenta a questões relativas ao exercício do poder. Especialmente a personagem Caliban tem sido adotada como um ícone cultural, sendo considerada um emblema das populações nativas colonizadas. Um destes escritores é Augusto Boal, célebre dramaturgo brasileiro e criador do método do Teatro do Oprimido, que propõe uma nova maneira de fazer teatro, segundo a qual o espectador se transforma em sujeito da ação dramática ( spect-ator ). Em vista disso, uma peça de teatro, então, deve despertar o indivíduo para discutir temas relacionados a todo tipo de opressão e ensaiar ações que possam, efetivamente, modificar a vida em sociedade. Aos moldes da Estética do Oprimido, Boal se apropria d A Tempestade, de Shakespeare, e a reescreve, no exílio, em 1979, época de ditadura militar brasileira e momento bastante fecundo para retomar Caliban enquanto representante das opressões advindas deste encontro colonial. Em virtude disso, a presente dissertação se propôs a fazer um estudo comparativo, à luz da teoria pós-colonial, da figura do oprimido em A Tempestade, de Shakespeare, e na apropriação de mesmo título, realizada por Boal. Reconhecendo que a apropriação denota uma relação intertextual mais questionadora, em virtude da prática crítica que visa adotar, tomamos o texto de Boal como uma resistência às leituras convencionais do texto de Shakespeare, além de retomar um espaço textual privilegiado para abordar o problema da opressão.
Esta tese, intitulada ―Liu Arruda: a travessia de um bufão cuiabano, sob a inspiração
de Augusto Boal‖, foi desenvolvida durante o curso de Doutorado em Educação
(PPGE/UFMT), inscrita nos conhecimentos construídos junto ao Grupo Pesquisador
em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA) da UFMT. Objetiva estudar a
década de 1980 em Cuiabá, abarcando particularmente as questões culturais,
educacionais, ambientais e estéticas por considerá-las indissociáveis e interligadas,
inclusive ao global, tendo como ponto de referência o teatro praticado por Liu
Arruda, cuja intervenção política e artística apoiada em Augusto Boal, ocasionou
forte impacto sobre o povo cuiabano. Isto mediante a seguinte problematização:
como o teatro interviu sobre a realidade de Cuiabá na década de 1980 e quais suas
contribuições para a educação ambiental? A leitura e a reflexão são feitas, sobretudo,
a partir da fenomenologia de Gastão Bachelard, pois enfatiza que o pesquisador deve
sair da contemplação de si mesmo para ir ao encontro do outro, substituindo o saber
fechado e estático pelo conhecimento aberto e dinâmico. Os conceitos da pesquisa
participante desenhados por Carlos Brandão, também são referendados ao defender
a participação do pesquisador como ser político, social e ideológico, comprometido
com as questões do seu tempo, e trocando a tradicional relação sujeito-objeto pela
relação sujeito-sujeito. Os resultados apontam que o teatro é uma poderosa
linguagem que possibilita a ampliação e participação, capaz de gerar transformações
individuais e sociais, nas quais as pessoas se sintam pertencentes à sua comunidade e
recuperem sua identidade de cidadãos e cidadãs planetários, assumindo o
compromisso, a responsabilidade e o cuidado com todas as formas de vida. E, assim,
ciência, arte, ser humano e ambiente se complementam, enriquecendo nossas
reflexões, estimulando ações militantes e ideológicas, sensibilizando, possibilitando
que expressemos nossas emoções, oferecendo táticas para lutarmos pelo nosso direito
ao sonho.