Como as aulas de teatro na escola podem contribuir para a compreensão acerca da relação que futuros professores estabelecem com a linguagem, particularmente a língua escrita? Como a relação que futuros professores estabelecem com a linguagem artística do teatro pode evidenciar sua relação com o conhecimento? Como a escola compreende e trabalha a linguagem, o conhecimento e a reflexão estética? A partir destas questões, o presente estudo procura analisar a relação que uma turma de um curso de formação de professores estabelece com a linguagem do teatro, a partir do contexto escolar.
Para tanto, foram acompanhadas durante seis meses do ano letivo de 1998, as aulas de teatro de uma turma de 3o ano (em nível de ensino médio) de um colégio particular de formação de professores, no Rio de Janeiro. As relações que a turma estabeleceu com a linguagem estética naquelas aulas foram estudadas e comparadas com algumas de suas relações com a linguagem escrita.
O estudo procura contribuir para a reflexão acerca da formação do professor - sua relação com a linguagem, com o conhecimento e consequentemente com sua prática profissional.
A realização deste estudo baseia-se em compreensões de linguagem, expressão estética e de narração fundamentadas no pensamento de Mikhail Bakhtin, Fayga Ostrower e Walter Benjamin. Entende-se que a opção por uma visão dinâmica e global acerca da linguagem e do conhecimento seja fundamental à construção de um ensino e de uma sociedade capazes de resgatar o humano no homem. Compreende-se também que ética, estética e conhecimento estão entrelaçados, dependendo da maneira como nos relacionamos com a nossa linguagem, nossa expressão, e com o "outro".
O presente trabalho é um estudo defendendo que as reflexões de Mikhail Bakhtin acerca da linguagem e da estética devam ser aplicadas no ensino de teatro, em benefício da educação escola. Para a elucidação das questões levantadas, são apresentados alguns exercícios ministrados a turmas de alunos do 2o segmento do ensino fundamental e ensino médio, de um escola particular da Zona Sul do Rio de Janeiro. Embora se tratando de um estudo preliminar, esta dissertação fornece indícios de que o ensino do teatro na escola, aplicado conforme os preceitos dialógicos de Mikhail Bakhtin, favoreça o aprendizado da linguagem, o desenvolvimento da capacidade de reflexão do aluno, e a construção de sua alteridade. Isto porque, entendemos a linguagem como essencialmente dialógica, os conceitos bakhtinianos nos permitem afirmar que o sonho de se fazer da escola o espaço para a construção da cidadania implica em se reconhecer o aprendizado da linguagem como condição indispensável para isto. Afinal, é através da linguagem que somo capazes de estabelecer o encontro com o 'outro'. Dessa forma, uma vez que o teatro trata-se de um expressão artísitica de extrema potencialidade dialógica, o seu ensino, na escola, certamente pode criar condições indispensáveis para a garantia de uma pedagogia verdadeiramente emancipadora.