Este estudo analisa a obra dramática Vereda da Salvação, pertencente ao ciclo Marta,a árvore e o relógio de Jorge Andrade, pelo método da análise do dialogismo discursivo de Mikhail Bakhtin. Dá ênfase especial ao discurso religioso messiânico como apropriação parodística (não cômica), por parte de um grupo de trabalhadores rurais que tinham sido posseiros, do discurso religioso católico tradicional, próprio da sociedade dominada pelos fazendeiros, entre os quais se encontram os que lhes retiraram as terras. Mostra também como um discurso cristão fundamentalista, portanto ãutoritário, contribuiu para a formação contraditória desse discurso messiânico. Aprofunda a análise do conflito discursivo entre os próprios ex-posseiros, através da utilização persuasiva dos discursos da natureza e do bom senso em confronto, que em alguns momentos se torna aberto, com os autoritários discursos fundamentalista e messiânico. Observa o conflito vivido intimamente por Dolor, mãe de Joaquim, protagonista do movimento messiânico, entre o uso do discurso da natureza e do senso comum e o uso do discurso messiânico, ao qual acaba por aderir, consciente do seu
caráter ilusório, por amor ao filho e com o fim de denunciar a sociedade injusta que os tem feito
sofrer como sofreram Cristo e a Virgem Maria, com os quais Joaquim e Dolor se identificam. E
interpreta o desfecho do drama como o resultado da oposição entre dois discursos autoritários,
em que os detentores do discurso católico tradicional preferem recorrer à força das armas da
polícia para silenciar os potencialmente subversivos seguidores do discurso messiânico,
enquanto os agregados mais conscientes se deixam matar, não como crentes messiânicos, mas
como pessoas que partilham de um protesto radical contra a injustiça estrutural daquela
sociedade. O recurso à teoria de Durkheim sobre a religião como forma de coesão social e à
teoria de Northrop Frye sobre o mito de interesse ajuda a explicar a transformação de um
conflito social num conflito religioso, expresso pela figuração artística original de uma obra de
literatura dramática.
O presente trabalho é um estudo defendendo que as reflexões de Mikhail Bakhtin acerca da linguagem e da estética devam ser aplicadas no ensino de teatro, em benefício da educação escola. Para a elucidação das questões levantadas, são apresentados alguns exercícios ministrados a turmas de alunos do 2o segmento do ensino fundamental e ensino médio, de um escola particular da Zona Sul do Rio de Janeiro. Embora se tratando de um estudo preliminar, esta dissertação fornece indícios de que o ensino do teatro na escola, aplicado conforme os preceitos dialógicos de Mikhail Bakhtin, favoreça o aprendizado da linguagem, o desenvolvimento da capacidade de reflexão do aluno, e a construção de sua alteridade. Isto porque, entendemos a linguagem como essencialmente dialógica, os conceitos bakhtinianos nos permitem afirmar que o sonho de se fazer da escola o espaço para a construção da cidadania implica em se reconhecer o aprendizado da linguagem como condição indispensável para isto. Afinal, é através da linguagem que somo capazes de estabelecer o encontro com o 'outro'. Dessa forma, uma vez que o teatro trata-se de um expressão artísitica de extrema potencialidade dialógica, o seu ensino, na escola, certamente pode criar condições indispensáveis para a garantia de uma pedagogia verdadeiramente emancipadora.