Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC
Entre 1967 e 1969, Hilda Hilst escreveu oito peças de teatro: A empresa,
O rato no muro, O visitante, Auto da barca de Camiri, As aves da noite,
O novo sistema, O verdugo e A morte do patriarca. Esta tese se
concentrará nessa experiência criativa de Hilda Hilst e buscará
responder por que tal experiência se tornou um voo solitário na
dramaturgia brasileira. No primeiro capítulo “Viver para a escrita.
Escrever para a vida.” abordamos a relação de Hilda Hilst com a escrita
literária. Entendemos aqui que a escrita, para Hilda Hilst, aproxima-se
daquilo que Maurice Blanchot chamou de “reviravolta radical”. Em “Do
poema à dramaturgia”, propomos uma leitura sobre os livros de poemas
publicados entre 1959 e 1967. Partimos do princípio que esses poemas
foram um dispositivo pelos quais Hilda Hilst trouxe questões como a
morte, o amor, o divino, a liberdade e o lugar do poeta no mundo.
Defendemos que o teatro hilstiano tem profunda ligação com estes
pensamentos que nortearam a escritora nos anos de 1960. No segundo
capítulo, “A chegada ao texto dramático”, trazemos uma leitura teórica a
respeito do texto dramático: sua força, sua primazia e sua saída do
centro do palco no século XX. Em “O poético no teatro hilstiano”,
fundamentados em pensadores como Octávio Paz e Martin Heidegger,
entre outros, abordamos como o poético se dá na dramaturgia hilstiana.
Na sequência, analisamos criticamente e estruturalmente como Hilda
Hilst torna alguns poemas escritos anteriormente em diálogos em O rato
no Muro e A empresa, além da aproximação que ela faz com o drama
poético de cunho mais simbolista na peça O visitante. Por fim,
analisamos Auto da barca de Camiri na qual Hilda se apropria de
algumas características do Auto, gênero clássico da poesia ibérica. No
terceiro capítulo da tese, nos deteremos nos aspectos do engajamento do
teatro hilstiano. Primeiramente, abordamos a questão do engajamento e
do teatro político tendo por base as ideias de Jean Paul Sartre, Albert
Camus, Paul-Louis Landsberg, Dias Gomes, e Jacques Rancière. Na
sequência do capítulo, defendemos que o engajamento do teatro de
Hilda Hislt é um engajamento poético, pois ela não se filia a nenhuma
das correntes predominantes do teatro no período, partindo para um voo
solitário em que buscava não apenas denunciar as mazelas e a falta de
liberdade no cenário político e social, mas também levar aos palcos a
volta de um olhar poetizado e espiritualizado sobre a vida. No quarto
capítulo, analisamos sete peças, justamente, para trazer à tona as
diversas facetas do engajamento poético de Hilda Hislt. Apoiamo-nos
em diversos autores, tais como Hannah Arendt, Simone Weil, Karl
Jaspers, Albert Camus, Alain Badiou, Peter Sloterdijk para fundamentar
a hipótese de que o teatro hilstiano é engajado poeticamente, por se
tratar de um canto de luto pela desumanização e pela perda da poesia na
humanidade, mas, ao mesmo tempo, uma advertência para que os
homens recuperem a humanidade e a poesia perdidas. No quinto
capítulo, “As tentativas de montagem e as encenações que chegaram ao
palco: um percurso”, contextualizamos o teatro brasileiro no período:
principais grupos, tendências e lutas dos artistas contra a ditadura, e de
que maneira o teatro hilstiano se inseriu nesse contexto. Traçamos um
percurso pela divulgação e pelas tentativas de montagem das peças, bem
como uma análise das montagens feitas entre 1969 e 1973 das peças O
rato no muro, O visitante, O novo Sistema e O verdugo. Esse capítulo é
resultado de uma pesquisa que fizemos nos arquivos de Hilda Hilst, bem
como nos acervos de diversos jornais e revistas do período. A pesquisa
nos mostrou que, apesar das tentativas de divulgação e publicação e das
montagens ocorridas, o teatro de Hilda Hilst, com sua proposta de um
engajamento poético, não dialogou de forma efetiva com aquele
período, permanecendo como uma experiência híbrida entre teatro e
poesia e permanecendo um voo solitário na dra