Este texto discute as abordagens que consideram o teatro de rua como uma modalidade daquilo que genericamente chamamos “teatro popular”. Buscar delimitar esses territórios não nasce de um desejo de estabelecer fronteiras rígidas. Mas, sim de uma percepção que tal distinção pode estimular o desenvolvimento de pesquisas de linguagens no campo do teatro que se faz na cidade sem o peso da marca do popular. Ao perguntar quais são suas raízes desta noção, e como a mesma se desenvolveu desde o início da segunda metade do século XX, pode-se esclarecer uma questão ideológica que tem atravessado a cena brasileira ao longo desse período. Ainda que essa tarefa seja exaustiva e esteja além das possibilidades de um artigo, é interessante tratar de estabelecer algumas referências que contribuam com a reflexão aqui proposta. Isso ganha relevo quando se constata que apesar da “crise das ideologias” a possibilidade de um teatro popular ainda arrecada muitos interesses entre os jovens realizadores. Para realizar essa tarefa recorre-se a instrumentos de análise semiológica de espetáculos de rua, buscando identificação de signos que levam a fronteira de tais espetáculos para além do campo popular.
Para atestar a possibilidade de diálogo entre o teatro, a cidade e a política, este artigo analisa três eventos de natureza distinta, em diferentes momentos da história brasileira: a adaptação, durante a ditadura militar, de Na selva das cidades (1969), de Brecht, por Zé Celso, à frente do Grupo Oficina, focando a cidade de São Paulo; os espetáculos O tiro que mudou a história e Tiradentes (1992), dirigidos por Aderbal Freire-Filho, que valorizam o teatro em espaços históricos e tombados da cidade do Rio de Janeiro; e a peça BR3,verdadeiro manifesto sociopolítico, encenada em São Paulo pelo Teatro da Vertigem (2006) e dirigida por Antônio Araújo. Nesta análise, a cidade se apresenta ora como representação, ora como suporte da cena ou como a própria dramaturgia, tendo como base conceitos formulados por Patrice Pavis, Christine Boyer e Marc Augé.
O presente artigo tem como foco analisar o trabalho das práticas performáticas que ocupam o espaço da rua, desenvolvidas pelo Coletivo Cantareira na comunidade da ilha de Paquetá, especificamente com a produção intitulada Auto de São Roque. A fundamentação do trabalho se pauta em discutir o espaço da rua como território sitiado e as possíveis astúcias e táticas do fazer coletivo, bem como os aspectos e caminhos estéticos da performance, ratificando essa intervenção como o lugar no qual corporeidade e vocalidade estão permanentemente em jogo. Pretende-se analisar também em que medida tais intervenções provocaram outros olhares sobre a própria localidade, recuperando e restaurando memórias e histórias.
O objeto de pesquisa compreende um dos segmentos da experimentação transdisciplinar, as interferências no espaço urbano, estudadas or acadêmicos da área de teatro. As questões essenciais identificadas para a compreensão do objeto foram as transformações estéticas do espaço, do espectador e a imanência. Inicialmente, abordamos as noções de espaço e as transformações do espectador, tanto nas artes quanto no teatro, demonstrando uma interdisciplinaridade entre essas duas áreas. A transdisciplinaridade é alcançada ao acompanhar os conceitos filosóficos e estéticos que desobrigam a arte de qualquer regra específica. A seguir, acompanhamos o pensamento de Gilles Deleuze e sua teoria estética para refletir sobre a hipótese. As interferências seriam imanentes ao espaço urbano? Abordamos a multiplicidade de maneiras de interferir no espaço urbano, aprofundando a análise do plano de composição de trabalhos dos artistas Ronald Duarte, Ducha e Xico Chaves. A arte pensa,sente a realidade, e propõe outros modos de ver e sentir.