Este artigo pretende discutir as práticas antropológicas e surrealistas nos cenários concebidos nos anos 1960 por Lina Bo Bardi. Aplicadas em maior ou menor grau nas cenografias da Ópera dos três tostões, de Brecht (1960), e de Calígula, de Camus (1961), estas práticas atestam a inspiração provocada pelas raízes culturais baianas, mas não impedem que Lina valorize o "distanciamento brechtiano, deixando à mostra as paredes em ruínas do Teatro Castro Alves. Na montagem de Na selva das cidades, de Brecht, (1969), encenada no Teatro Oficina, Lina utilizou lixo reciclado, destruído a cada espetáculo. Busco demonstrar que a dialética de suas práticas denota uma poética fundamentada na dialética entre o antropológico e o vanguardista.
Espaços alternativos têm sido muito recorrentes para abrigar espetáculos contemporâneos. Este artigo pretende analisar como uma peça de Ariano Suassuna foi encenada em casa noturna de sucesso instalada em dois sobrados geminados no centro do Rio de Janeiro, antigo antiquário transformado após a requalificação da área. Dirigida por Elza de Andrade, a peça Farsa da Boa Preguiça (2001) comprova a vitalidade do espaço teatral “encontrado” para o sucesso da montagem. Analisa-se neste ensaio, com base nos estudos semiológicos de Patrice Pavis e Marvin Carlson, de que modo os signos do espaço realçaram os signos verbais de Suassuna em texto renomado em que o autor discute o ócio criador do poeta popular sertanejo e ressalta a diferença de visão de mundo do brasileiro em relação à dos habitantes do hemisfério norte. Entre a realidade e fantasia, a diretora criou um espetáculo no antigo antiquário que resultou em perfeita simbiose entre o texto e o espaço.