Para atestar a possibilidade de diálogo entre o teatro, a cidade e a política, este artigo analisa três eventos de natureza distinta, em diferentes momentos da história brasileira: a adaptação, durante a ditadura militar, de Na selva das cidades (1969), de Brecht, por Zé Celso, à frente do Grupo Oficina, focando a cidade de São Paulo; os espetáculos O tiro que mudou a história e Tiradentes (1992), dirigidos por Aderbal Freire-Filho, que valorizam o teatro em espaços históricos e tombados da cidade do Rio de Janeiro; e a peça BR3,verdadeiro manifesto sociopolítico, encenada em São Paulo pelo Teatro da Vertigem (2006) e dirigida por Antônio Araújo. Nesta análise, a cidade se apresenta ora como representação, ora como suporte da cena ou como a própria dramaturgia, tendo como base conceitos formulados por Patrice Pavis, Christine Boyer e Marc Augé.
Este artigo pretende discutir as práticas antropológicas e surrealistas nos cenários concebidos nos anos 1960 por Lina Bo Bardi. Aplicadas em maior ou menor grau nas cenografias da Ópera dos três tostões, de Brecht (1960), e de Calígula, de Camus (1961), estas práticas atestam a inspiração provocada pelas raízes culturais baianas, mas não impedem que Lina valorize o "distanciamento brechtiano, deixando à mostra as paredes em ruínas do Teatro Castro Alves. Na montagem de Na selva das cidades, de Brecht, (1969), encenada no Teatro Oficina, Lina utilizou lixo reciclado, destruído a cada espetáculo. Busco demonstrar que a dialética de suas práticas denota uma poética fundamentada na dialética entre o antropológico e o vanguardista.
Uma arquitetura ética ocorre sempre acompanhada do diálogo com a sociedade e a construção poético-espacial desta arquitetura não dispensa a liberdade coletiva. Este artigo objetiva discutir as relações entre ética e história da arquitetura teatral usando o exemplo da obra de Lina Bo Bardi, que idealizou uma arquitetura despojada, oferecendo ao espectador a possibilidade de participar de um espetáculo de teatro, refutando as formas tradicionais. Na concepção ou reforma dos espaços teatrais, Lina demonstra esta preocupação com o público, e com a colaboração deste público. A arquiteta — cuja produção abrange também cenários e figurinos — une sua experiência racionalista européia à realidade crítica brasileira, valorizando as características naturais do país por meio do uso de materiais locais em suas obras. Os estudos de caso que problematizam a hipótese referem-se às adaptações de uso projetadas para os teatros Oficina, SESC da Pompéia e Gregório de Mattos.