O objetivo desta tese é a análise de personagens singulares da dramaturgia – Medeia, Virgínia
e María –, inseridas respectivamente nas peças Medeia, de Eurípides; Anjo Negro, de Nelson
Rodrigues e Medea en el espejo, de José Triana. A escolha das peças justifica-se pelo ponto
de contato entre elas no que diz respeito ao conteúdo temático: as protagonistas criadas por
autores tão distantes no espaço e no tempo compartilham, todas, a ação de assassinar os
próprios filhos, crime considerado terrível e monstruoso. A intenção é analisar, sobretudo, a
adaptação do mito realizada por Eurípides; as releituras dos dramaturgos brasileiro e cubano
referidos, e também a performance realizada pelas personagens a partir da análise do duplo
sentido do termo “phármakon” (remédio ou veneno) em a Farmácia de Platão, de Jacques
Derrida. Pretendeu-se analisar os crimes da feiticeira Medeia, em Eurípides; do médico
Ismael e da branca Virgínia, em Nelson Rodrigues e de María, em José Triana. Medeia,
Ismael, Virgínia e María têm em comum o conhecimento e a habilidade com o uso do
phármakon para a realização de alguns de seus crimes, seja no campo do conhecimento
prático ou na esfera da palavra. Nesse sentido, o crime e a violência não seriam frutos da força
física, mas de um “conhecimento” capaz de promover a mutilação ou a morte.