Na década de 1960, a ascensão militar ao poder estatal e o recrudescimento da censura propiciaram uma sucessão de manifestações de oposição ao regi-me no campo da cultura. No aspecto institucional, destacou-se a concretização de um plano de centralização da censura no decurso dos anos 1960, a edição de novos instrumentos legais a partir de 1965 e a reformulação administrativa das instâncias censórias durante a década de 1970. No setor artístico, projetaram-se a organização da campanha “Contra a censura, pela cultura” e a deflagração de uma greve geral dos teatros, ambas em 1968. Até 1967, as manifestações públicas de oposição à censura restringiram-se ao eixo Rio-São Paulo e se consolidaram como ação coletiva. Na sequência, ganharam projeção nacional e migraram para a esfera jurídica e, depois, para o campo econômico. Tendo em conta todo esse panorama, analisar as formas de atuação do meio teatral na “frente de resistência” é o principal objetivo deste artigo.
Neste trabalho dissertativo se analisa a peça Fábrica de Chocolate, do escritor Mário Prata,
no contexto da distensão política do final da década de 1970 no Brasil. Fruto de uma visão
privilegiada de quem viveu o período e passou pelas prisões da ditadura militar de 1964-
1985, Mario Prata faz um inventário da ditadura e de seu principal caudatário: a tortura de
brasileiros por crimes de opinião e de ideologia. Utilizando-se de uma linguagem cheia de
armadilhas, Prata cria um cenário e um ambiente em que diversos sentimentos e sensações
passam pela mente e pela vista do espectador, fazendo-os refletir sobre o seu papel e sua
postura diante de um processo de degradação humana que foi utilizada como política de
defesa do Estado. Com base nos escritos de Bakhtin (2003), Fromm (2013), Arendt (1973),
busca-se neste texto compreender esse processo de construção estética e formação dialogal
entre autor, personagens e espectadores. Conclui-se que Prata buscou inventariar as
práticas de tortura do regime militar expondo ao público o que se fazia às escondidas, ao
mesmo tempo em que perguntava: o que você fazia quando isso estava ocorrendo?