Neste trabalho dissertativo se analisa a peça Fábrica de Chocolate, do escritor Mário Prata,
no contexto da distensão política do final da década de 1970 no Brasil. Fruto de uma visão
privilegiada de quem viveu o período e passou pelas prisões da ditadura militar de 1964-
1985, Mario Prata faz um inventário da ditadura e de seu principal caudatário: a tortura de
brasileiros por crimes de opinião e de ideologia. Utilizando-se de uma linguagem cheia de
armadilhas, Prata cria um cenário e um ambiente em que diversos sentimentos e sensações
passam pela mente e pela vista do espectador, fazendo-os refletir sobre o seu papel e sua
postura diante de um processo de degradação humana que foi utilizada como política de
defesa do Estado. Com base nos escritos de Bakhtin (2003), Fromm (2013), Arendt (1973),
busca-se neste texto compreender esse processo de construção estética e formação dialogal
entre autor, personagens e espectadores. Conclui-se que Prata buscou inventariar as
práticas de tortura do regime militar expondo ao público o que se fazia às escondidas, ao
mesmo tempo em que perguntava: o que você fazia quando isso estava ocorrendo?