Esta dissertação tem como objetivo analisar os discursos presentes nos
programas da Companhia Brasileira de Teatro (CBT), demonstrando que os
programas teatrais servem como fontes para pesquisas teóricas e carregam uma
carga textual poética e estética concernente à pesquisa do coletivo, que vai além
de informações básicas relativas ao horário, à data e ao local da apresentação
do espetáculo. A partir das análises dos programas dos espetáculos, a pesquisa
se debruça sobre os caminhos artísticos da Companhia Brasileira de Teatro ao
longo de sua trajetória, dando destaque aos conceitos utilizados pelo coletivo,
aos autores, às linhas estéticas, aos processos de edificação cênica e à
produção dos espetáculos. Além disso, ressaltamos as informações contidas nos
programas como dados em movimentação e transformação, e menos como
unidades estáveis. Com isso, buscamos traçar um breve panorama das
perspectivas e tendências estéticas desenvolvidas pela CBT, trazendo à luz
peculiaridades do teatro contemporâneo.
A presente dissertação descreve e analisa a trajetória do Grupo Teatral Independente, grupo de teatro amador em língua alemã criado na cidade de Curitiba, em 1948, que terminou suas atividades em 1968. O grupo teve sua existência marcada por dois momentos históricos decisivos: primeiramente, o período do pós-Segunda Guerra Mundial e pós-Estado Novo, que influenciaram sua criação e primeiros anos de existência; em segundo lugar, o período da Ditadura Militar, no Brasil, a partir de 1964. Para a realização do trabalho foi utilizado um espólio, em posse de familiares de um membro do grupo, constituído por programas, listas, reportagens de jornais e revistas, fotografias, além de vasto material de correspondência. Tal espólio permitiu a reconstituição não só do grupo, mas também do espaço cultural no qual circulavam diferentes discursos: sobre o teatro, sobre a situação política e histórica na qual o grupo estava inserido e a utilização da língua alemã em suas representações. A língua alemã foi um dos fatores fundamentais de manutenção ou construção de uma identidade de seus integrantes e seu público.
Marcos Barbosa, um dos mais promissores dramaturgos brasileiros contemporâneos, cujas peças foram produzidas não apenas nos Estados Unidos como também em diversos países da Europa, escreveu o texto dramatúrgico Auto de Angicos(2003) a partir de uma solicitação da diretora baiana Elisa Mendes. Auto de Angicos,que recebeu o prêmio ―Braskem de Melhor Texto‖ em 2004, é uma peça que remete ao casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita momentos antes de serem dizimados no Grotão de Angicos. Barbosa demonstra em seu texto que o relacionamento íntimo do casal é recheado de gentilezas, alegrias, desapontamentos e perdas, como ocorre nos relacionamentos de tantos outros casais. O dramaturgo cearense dissocia a imagem de Lampião, geralmente ligada a confrontos violentos, ao escolher como cenário o Grotão de Angicos tal qual a ―sala de uma casa‖. Auto de Angicosteve duas produções: uma da diretora Elisa Mendes, em 2003, e outra do diretor mineiro Amir Haddad, em 2008. A proposta deste trabalho centraliza-se na análise da peça nos seus aspectos textuais e espetaculares a partir de contextos históricos, estéticos e filosóficos, o que possibilitou um embasamento teórico maisabrangente para a discussão da dissolução das antinomias e a discussão da importância do corpo no teatro contemporâneo. A peça se insere no panorama do teatro brasileiro atualnão só por apresentar pela primeira vez no palco a personagem Lampião destituída das polaridades, que ora o apresentam como um herói, ora como vilão, bem como pela priorização da produção de presença na montagem de Haddad. Tal priorização busca desnudar os artifícios geradores da ilusão dramática através da estética brechtiana e da utilização de elementos do teatro de rua. Os atores realizam um jogo performático que conduz o público, através da personagem de Lampião, ao âmago do questionamento sobre as diversas faces do ser humano.