Este trabalho é constituído por uma peça original de teatro - O Grande Grito; de um capítulo onde se faz um vôo panorâmico sobre a vida e obra de Mário de Andrade, salientando nelas os fatos que são fundamentais para a compreensão da peça - em especial a criação do Departamento de Cultura e as razões do Governo Vargas para destituir o autor de Macunaíma de suas funções; e de um relato do processo de criação da peça, desde o contato com o tema até sua versão final. Entre 1935 e 1938 Mário de Andrade foi diretor do Departamento de Cultura da cidade São Paulo, onde realizou projetos de relevância para o município e para o país. Um deles foi a Missão de Pesquisas Folclóricas, expedição enviada ao Norte e Nordeste do Brasil com a finalidade de coletar o maior número possível de informações e objetos artísticos relacionados a manifestações artísticas populares de tais regiões. A expedição partiu no início de 1938 mas quando voltou, em julho do mesmo ano, Mário de Andrade havia sido demitido pelo governo Vargas. Todo o acervo recolhido pela Missão ficou indestinado, sem a presença daquele que havia elaborado o projeto. Nos anos que se seguiram, este material ficou à mercê da política cultural adotada pelos governos municipais, chegando nos anos oitenta, a ficar um bom período fechado num depósito, em condições muito precárias. A partir deste fato - o abandono de precioso bem cultural - foi escrito O Grande Grito, que se passa em dois planos: o do visível e o do
invisível. No primeiro estão Dr. Flávio; Frederico - seu filho, adolescente; Seu Nilton; d. Cecília - sua mulher; e Rose - filha dos dois e namorada de Frederico. ) No mundo do invisível estão Macunaíma, Exu e o angustiado espírito de Mário de Andrade. A peça examina a relação que cada um deles estabelece com aquele rico acervo, fazendo com que os dois mundos se entrelacem. Uma grande questão permeia toda a peça: qual o valor do passado? Do que não podemos abrir mão sob pena de nos desfigurarmos.