endo em vista a importante presença do repertório dramático do português José da Silva Mendes Leal (1818-1886) no teatro romântico brasileiro, este artigo tem por objetivo apresentar as encenações e a recepção crítica de suas peças nos palcos do Rio de Janeiro, entre as décadas de 1840 e 1850, reconstituídas por meio de informações recolhidas em fontes primárias, a saber: anúncios de espetáculos, críticas teatrais e comunicados de espectadores publicados pela imprensa fluminense.
A presente comunicação visa apresentar considerações acerca da importância de portugueses na cultura brasileira do século XIX; considerando especificamente o caso de Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado Coelho (1831-1900), importante ator, empresário e dramaturgo português de carreira profícua e influente na cena teatral brasileira. Furtado Coelho chega ao Brasil no ano de 1856 e passa a integrar o Teatro Ginásio Dramático, do Rio de Janeiro, destacando-se como ator e “ensaiador” da companhia. O trabalho desenvolvido pelo Ginásio Dramático orientava-se por uma concepção realista de teatro que permeava suas escolhas relativas a repertório, cenário e modos de interpretação. Nesse último ponto, Furtado Coelho se destaca como um divisor de águas, adotando uma forma de atuação mais natural e menos enfática, distinguindo-se dos modelos declamatórios e altamente estilizados que configuravam tradição dos palcos brasileiros. A novidade representada pelo ator despertou inclusive a atenção de representantes expressivos da intelectualidade brasileira, tais como Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo. O caso de Furtado Coelho ilustra um fenômeno comum à cena dramática brasileira oitocentista – a participação de atores portugueses como mediadores entre as práticas locais e as novidades oriundas do teatro europeu – fenômeno esse que demonstra as confluências culturais que contribuíram à constituição dessa época de nossa história teatral.