Esta investigação lança-se sobre o samba da cidade do Rio de Janeirono período preliminar à sua consolidação como símbolo nacional - primeiras décadas do século XX - de modo a analisar a atuação das mulheres neste processo. A literatura apresenta escassas informações que apontem a figura feminina como sujeito importante para a constituição desta manifestação cultural, o que tem conduzido pesquisadores a apresentar o samba como um espaço essencialmente masculino. O foco inicial foi a 'Pequena África do Rio de Janeiro', contexto tomado pela maioria dos pesquisadores como o principal ambiente onde o samba teria encontrado um terreno propício para seu desenvolvimento enquanto gênero musical característico da cultura brasileira e símbolo da identidade nacional. Identifiquei neste reduto a presença de musicistas como Ciata, Perciliana, Carmem do Ximbuca, Maria Adamastor, Amélia Aragão, mulheres conhecidas como 'Tias Baianas', comumente apresentadas apenas como protetoras e acolhedoras do samba. Num segundo momento, examinei a participação das mulheres em outros segmentos da sociedade carioca, tendo como recorte principal o samba no teatro musicado. Parto do princípio que para o samba se estabelecer como símbolo da identidade nacional diversos aspectos da cultura do samba foram reinventados, inclusive no campo das relações de gênero. Esta reinvenção das relações de gênero se efetuou através da celebração do mito da metiçagem e da democracia racial, onde a invenção da mulata emergiu como elemento essencial para o fortalecimento do diálogo entre o samba e a incipiente indústria do entretenimento que se formava em torno do teatro musicado.